terça-feira, 26 de junho de 2012

Declaração de um Cego à sua Bengala


DECLARAÇÃO DE UM CEGO À SUA BENGALA

Minha bendita Bengala:
maravilhosa extensão dos meus pés, dos meus braços e dos meus olhos.
Companheira silenciosa que desenha meus trajetos e projeta meus itinerários.
Como um peão de xadrez te lança numa empreitada a meu favor,
contra todas as peças do inimigo.
E quando parece que não tens mais força, já exangue, ressurges como uma Rainha Poderosa e avassaladora na batalha do dia-a-dia.
Para mim não és somente um objeto sem vida e sem sentimentos,
mas pelo contrário
és amiga que fortalece minha alma de andante no caminho agreste enquanto não chego ao meu porto.
És meu remo, meu volante, meu prumo, meu GPS.
Enquanto estiver meus pés sustentando este meu corpo
tu serás o elo que me une à vida e o braço com o qual abraço o Universo e o Cosmo.
Tu és, querida bengala,
"como a estrela que levou os Reis Magos até Jesus naquela noite em que os anjos cantaram Glória a Deus nas alturas".
Obrigado amiga maravilhosa,
eu te amo muito...

CarluzCAN

Carlos Alberto Nascimento, 63 anos, reside na cidade de Lorena, interior de São Paulo. Músico, poeta e pessoa com deficiência visual desde 2004. No ano seguinte iniciou o aprendizado do Sistema Braille sendo aluno da Prof.ª Luciane Molina. O poema acima foi escrito originalmente em Braille, em duas páginas completas.
Descrição da imagem: foto vertical. Na fachada da Secretaria de Educação de Lorena, um senhor de estatura mediana e cabelos grisalhos aparece em pé. Segura na mão direita uma bengala longa. Usa óculos escuros e veste calça preta, casaco cinza com azul marinho sobre uma camisa polo azul marinho. A esquerda da imagem aparece um vaso com folhagens verdes. Ao fundo aparece parte da parede do prédio na cor alaranjada e uma porta branca da entrada principal.

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