domingo, 8 de julho de 2012

Reflexão

O Brasil é rico em garantias legais que sustentam os direitos das pessoas com deficiência, porém pouco se tem conquistado além do âmbito político para que essa prática se torne cada vez mais frequente e essas garantias sejam mesmo respeitadas e praticadas. Hoje, de acordo com o censo do IBGE, somos cerca de 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência. Com 3,5%, a deficiência visual severa foi a que mais incidiu sobre a população.
 
Vemos um enorme despreparo, uma lacuna que divide o real do possível e grande parte se deve a falta de profissionais qualificados para exercerem o papel de "transformação" que a educação possibilita e a quem dela fará seu instrumento de equiparação de direitos.
 
questiono, portanto, os motivos pelos quais em cursos de formação de professores muitas disciplinas são "ignoradas" ou quase que empurradas pra debaixo do tapete como se não fossem suficientemente importantes para uma prática inclusiva. A teoria "colorida" e perfeita demonstrada em centenas de páginas, contadas por dezenas de autores não são sequer digeridas, pois corre-se  o risco de que, se bem aprendidas, sejam usadas contra aquele profissional que, poderá então receber um aluno "especial". Especial é um termo que jamais concordei e só escrevi por ser a fala de muitos.
 
O que se sabe, é que existe um pânico quase generalizado sobre os fatores que sustentam uma prática docente inclusiva. Se esse professor conhece as formas de ação, ele corre o risco de receber esse aluno com deficiência visto como o "problema" para todos os fracassos no ambiente escolar.
 
A desculpa está, então, "se não sei, não posso atender". E as formações vão se tornando cada vez menos evidentes no sentido de um efetivo trabalho com a educação inclusiva.
 
Ora, se não existe o preparo nem para o aluno com deficiência frequentar uma universidade, porque teria para a formação de um professor?
 
É tão incoerente quanto dizer que moramos em marte, mas a sensação é que a inclusão no Planeta Terra tem anos luz a evoluir.
 
Como iniciei este texto falando das garantias legais, de certa forma elas sustentam uma pseudogarantia, que dão força para que essas pessoas com deficiência se sintam no direito de saírem de suas casas, do seu conforto, para enfrentarem muito mais do que as barreiras físicas, mas sobretudo encararem as barreiras comunicacionais e atitudinais.
 
A formação de professores é imprescindível, essencial e fundamental para que se construa, de fato, o processo de inclusão, partindo não apenas do tratamento igualitário, aquilo que se prega em leis, mas principalmente, partindo da aceitação das diferenças e da diversidade. é esse princípio, de que todos somos diferentes, que sustenta as bases para as ações inclusivas e, sobre esse pilar, também, deve-se sustentar a prática docente, quando permite que o professor observe cada aluno como único.
 
A formação de professores, como por exemplo na área da deficiência visual, vai oferecer aos profissionais as condições necessárias para que ele assuma seu papel de pesquisador, que conheça e possa intervir com ações pertinentes a cada caso, seja no ensino do Braille, na estimulação tátil, no uso do soroban, nas instruções para orientação e mobilidade, nas atividades de vida autônoma, na elaboração de estratégias com o uso da tecnologia assistiva, dentre tantas outras proposições que ele só terá condições a partir de uma formação técnica.
 
Tenho questionado o por quê dessa formação não ser valorizada nos cursos de pedagogia ou licenciatura. Tenho questionado, sobretudo, as consequências de uma formação sem estrutura e sob quais condições esse aluno cego será orientado e conduzido em sua caminhada escolar. Fico bastante preocupada quando professores, sem quaisquer critérios, sentem-se especialistas sem o mínimo de formação e o quanto algumas posturas são prejudiciais. É fato que a boa vontade já merece o reconhecimento, porém apenas com boa vontade, sem pesquisa, sem estudo, sem bases norteadoras não podemos construir essa prática fundamentada em princípios sólidos.
 
Trabalho com formação de professores em cursos de aperfeiçoamento de Grafia Braille, informática e audiodescrição. Muito me espanta quando professores especialistas (com pós-graduação) chegam para fazer meus cursos e falam que não tiveram sequer bases elementares para sustentar essa prática.
 
Fico bastante feliz, porém, quando esses mesmos profissionais, verificando essa lacuna nos cursos de graduação ou pós-graduação, procuram uma formação complementar para apoiar suas práticas. As histórias são lindas. Muitos deles encontram uma identidade na área da educação inclusiva, não por ser um campo recente, até porque anda bem competitivo... mas a motivação que os levam a seguir o caminho da educação inclusiva tem como base o respeito à diversidade. eles percebem que a inclusão é um processo a ser aplicado não apenas para pessoas com deficiência, mas para todos os alunos.
 
Este texto foi redigido como parte da disciplina de um curso que participo. Trouxe essa reflexão publicamente porque precisamos compreender que as leis  não resolverão sozinhas todos os problemas da inclusão educacional, mas devemos tê-las como aliadas do processo de escolarização regular e do Atendimento Educacional especializado. Defendo a  parceria entre os sistemas de ensino para a formação de uma consciência voltada a verdadeira aceitação das diferenças em sala de aula e fora dela. Os alunos com deficiência têm direito ao ensino, cultura, lazer, trabalho e participação social!
 
 
 
 

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