terça-feira, 10 de março de 2009

O Deficiente Visual e seu acesso aos Espaços Virtuais

Publicada em outubro de 2008, no site “Vejo São José”, nessa coluna busquei retratar as reais dificuldades que os deficientes visuais encontram ao navegar em espaços virtuais. A acessibilidade não está limitada apenas ao espaço físico, mas também em ambientes virtuais e, sobretudo, na atitude das pessoas em oferecer condições para que as pessoas tenham independência e autonomia ao realizar, desde as mais simples até as mais complexas tarefas. Ao utilizar a WEB como espaço de pesquisa, estudo, trabalho e entretenimento, busco sempre valorizar o que merece elogios e, informar sobre possíveis dificuldades. Na maioria das vezes, existe a boa vontade para as adaptações necessárias, o que acredito contribuir para ampliar nossas possibilidades de acesso, mas também, na divulgação de como utilizamos os computadores na busca do conhecimento.

O Deficiente Visual e seu acesso aos espaços virtuais

Luciane Molina *

"Num belo dia, estava na Avenida paulista e um amigo me ligou para almoçarmos juntos. Devido à empolgação, esqueci de perguntar o endereço para ele. Fiquei
sem saber o que fazer por alguns instantes, mas logo lembrei da internet. Corri para o local que trabalho e acessei o site do restaurante para obter o endereço e telefone. Em instantes, já estava de posse de todas as informações necessárias."

Paulo Rachmaninov Siqueira)

Sem dúvida alguma, a internet hoje é uma realidade presente no dia-a-dia da maioria das pessoas. Porém, o depoimento acima seria tão comum se não tivesse sido gerado graças ao uso de leitores de tela para deficientes visuais. Todo o processo da procura pelo endereço e telefone do restaurante também foi conseguido
via áudio. Com softwares adaptados para essas pessoas é possível desempenhar inúmeras tarefas no computador, cujas pistas visuais são transmitidas para
o usuário por meio de uma voz sintetizada, um software instalado para essa finalidade, mas que não interfere no funcionamento geral das máquinas. Assim
quem não pode acompanhar, por exemplo, o movimentar e o apontar da ponteira do mouse, utiliza comandos e atalhos do teclado e toda interface gráfica pode
ser compreendida pelo áudio das imagens e do que está escrito no monitor. São inúmeras as facilidades trazidas por mais esse recurso, algumas conveniências
que antes só eram acessíveis pela mediação de alguém que descrevesse as informações a quem não as vê. No entanto, essa aproximação entre usuário e máquina expandiu-se para além do campo tecnológico. Segundo Paulo Siqueira, relator do depoimento acima, massoterapêuta e deficiente visual: "Além das conveniências da informática, a internet me proporcionou mais conhecimento, novas amizades. Costumo acessar guias de música, site de relacionamento, buscadores, jornais e eventuais blogs."
Mas não se espante! Como foi dito acima, a voz responsável pelo áudio das informações não é produzida por um locutor que está dentro da "caixa" do computador,
nem do outro lado da telinha. É bastante comum abordagens desse gênero, tendo que esclarecer freqüentemente que, além do software instalado é preciso que os aplicativos e sites sejam acessíveis aos leitores de tela. Isso significa que nem sempre o que está visível é suficiente para o programa interpretar.
É preciso, também, que ele leia o que está por trás do que aparece, ou seja, o código que foi gerado. Em páginas WEB, por exemplo, existe uma diretriz que determina a acessibilidade desses espaços, para que sejam perfeitamente acessados. Essas diretrizes, além de garantir a atuação dos cegos nesses sites, com autonomia, norteiam o trabalho dos desenvolvedores de conteúdo WEB. Temos o W3C, Word Wide Web Consortium; é um consórcio de empresas de tecnologia, criado em 1994, que estuda as tecnologias existentes para a apresentação de conteúdo na Internet e cria padrões de recomendação para utilizar essas tecnologias e permitir a acessibilidade. Assim, não é preciso empobrecer as páginas, retirando delas toda sofisticação gráfica, mas adaptar e introduzir recursos que possam enriquecer, ainda mais, seu conteúdo. Muitas dessas adaptações somente são compreendidas pelos leitores de tela para deficientes visuais, como legenda oculta em fotos, descrição de links, identificação de células e colunas nas tabelas, entre outros. Quando essas diretrizes não são seguidas adequadamente, a navegação torna-se muito mais dificultada. Por isso, cada barreira no acesso deve ser relatada aos desenvolvedores. Criticar faz parte da conscientização, mas é preciso valorizar, também, aqueles profissionais que se empenham em deixar cada "cantinho" o mais acessível possível. Essa é uma preocupação recente, não tão simples, porém que tem caído na preferência de muitos webdesigners, já que representa um diferencial em seu trabalho. Os benefícios de páginas com acessibilidade deve incluir todos que necessitam usufruir da informação contida nela. " Existem uma série de itens que torna flexível, cômoda, prática e fácil o uso de uma página web. Por esses motivos, designers e programadores devem incluir em seus projetos a acessibilidade, permitindo aos portadores de necessidades especiais como os deficientes físicos, visuais, auditivos e cognitivos o acesso à informação." Disse Eder da Silva Oliveira, designer de Portais WEB e estudante do 4º ano de desenho industrial.
Mesmo enxergando, Eder precisou instalar, em seu computador, os principais leitores de tela existentes no mercado e aprender utilizá-los. Navegando como os deficientes visuais ele consegue identificar falhas e fazer novas implementações em seus trabalhos. Paulo Siqueira ainda afirma que, por onde passa, dificilmente se vê impedido de navegar com facilidade. "Com relação à acessibilidade, os sites que costumo freqüentar são fáceis de navegar, ainda que os desenvolvedores não tenham pensado num site acessível." Já as inúmeras falhas encontradas enquanto navega na internet, faz com que Gilberto Ferreira, deficiente visual e vice presidente da Instituição Braille de Santos (IBS), fique chateado quando se vê impedido de concluir algum cadastro por causa da solicitação das letras de confirmação, que aparecem, geralmente, na forma de uma imagem embaralhada. "Essa forma de segurança, muito visual, exclui as pessoas que têm dificuldade para enxergar".
Assim, uma página de fácil navegação pode estar fora dos padrões de acessibilidade, que significa a flexibilidade no acesso às facilidades de um determinado produto ou local. Essa facilidade de uso, denominada usabilidade, gera uma maior produtividade e um menor índice de erros na execução de tarefas e utilização de serviços. Torna-se urgente e necessário uma abordagem ampla, cujos conceitos, tanto de acessibilidade quanto de usabilidade, sejam mais divulgados e integrados para garantir um acesso pleno e eficaz aos espaços virtuais por deficientes visuais e seus leitores de tela.

2 comentários:

  1. Ainda há muitos desenvolvedores para Web e de aplicações desktop que não seguem normas nem de usabilidade, nem de acessibilidade - o que é muito ruim.

    Empresas e desenvolvedores independentes deveriam focar mais essa questão, pois, em termos de negócios, usabilidade e acessibilidade são fundamentais tanto para atingir um número maior de usuários e oferecer uma experiência positiva de uso de determinada ferramenta quanto para melhorar a escrita de código, sua reutilização, entre outros.

    Há muito a ser feito, e é necessário quebrar as barreiras emocionais envolvendo os porquês de não aceitar diferenças no mundo virtual e real.

    Excelente post! Esse blog caminha em direção ao esclarecimento. Parabéns, Luciane!

    ResponderExcluir
  2. Muito legal seu blog, Luciane. Já é uma ferramenta de estudo para muitos professores e alunos. Parabéns pelo seu trabalho.
    Delamare...

    ResponderExcluir