terça-feira, 10 de março de 2009

Encontro dos Países Lusófonos para Divulgação e Implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

Agora, reproduzo abaixo a entrevista feita por mim e publicada, em setembro de 2008, na coluna do site “Vejo São José”.

19.09.2008 15h.40
Encontro dos Países Lusófonos para Divulgação e Implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência

Luciane Maria Molina Barbosa (*)

Um evento promovido pela Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo aconteceu de 10 a 14 de setembro de 2008, na cidade de Santos – SP. Esse encontro, que reuniu profissionais e palestrantes de cada um dos países lusófonos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste, teve como objetivo, capacitar diferentes agentes nos temas abordados pela Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência, aprofundando a cooperação entre esses países e intensificando as políticas programas e ações voltadas para a inclusão e a qualidade de vida das pessoas com deficiência.
Dentre os mais de 20 palestrantes, os temas debatidos sugeriram uma reflexão ampla, abordando desde questões de direitos humanos e a convenção, retrato da pessoa com deficiência na América Latina, definição de deficiência, questões jurídicas e não discriminação perante a lei, mobilidade e vida independente,
tecnologias assistivas, empregabilidade, educação, saúde e reabilitação, acessibilidade à comunicação e ao meio físico, entre outros.
Para saber mais sobre o que ocorreu no Encontro dos Países Lusófonos, conversei com Gilberto Ferreira, atuante em movimentos de pessoas com deficiência, na baixada santista, que assistiu a esse evento.

Luciane: Gilberto, apresente-se para os leitores, falando um pouco sobre sua atuação no movimento das pessoas com deficiência na sua região.
Gilberto: Sou Gilberto Ferreira, tenho 45 anos, atuo no movimento das pessoas com deficiência desde 2000, no Grupo Terceira Visão de Santos e no CONDEFI – Conselho Municipal para Integração das pessoas com Deficiência. No Grupo Terceira Visão atuamos na promoção e defesa dos direitos das pessoas com deficiência visual. Já no CONDEFI atuei na comissão de acessibilidade e atualmente atuo na comissão de ordem jurídica.

L: Como deficiente visual, você vê avanços significativos com esses eventos que visam à divulgação de ações mais efetivas no combate à discriminação?
G: Com toda certeza essas ações são importantes para o combate a discriminação. É uma pena que os deficientes não participem ativamente desses eventos, porque só com a atuação efetiva de todos, vamos conseguir acabar com essas discriminações.

L: Dentre as palestras as quais você participou, em sua opinião, qual trouxe uma contribuição real para nós Brasileiros? Conte para os leitores um pouco sobre essas contribuições.
G: Acho que todas as palestras foram importantes. Não dá para falar só de uma, mas dentre todas que participei, as que mais me emocionaram foram os depoimentos dos nossos irmãos dos países lusófonos. Deu para ter uma idéia de como o Brasil está avançado nas questões das pessoas com deficiência, é claro que com a convenção é só o primeiro passo para que essas ações comessem a ter um resultado. Precisamos agora encontrar um mecanismo para fiscalizar e fazer com que essa convenção seja efetivamente respeitada.

L: O que é acessibilidade? Apenas garantir o acesso aos locais públicos representa Inclusão?
G: Não, Luciane, a acessibilidade em locais Públicos não garante a inclusão. A acessibilidade é um direito de todos os cidadãos. Ela não é somente para as pessoas com deficiência, mas também para as crianças, idosos, gestantes, para que se possa exercer o direito de ir, vir e se comunicar com autonomia e independência.

L: Os direitos dos deficientes são respeitados de fato ou é preciso, ainda, aplicar severas punições?
G: Sabemos que nossos direitos ainda não são respeitados, mas acho que também não é com punições que vamos resolver o problema; sim com uma ampla conscientização, com palestras e workshops para mostrar para a sociedade a importância da integração das pessoas portadoras de deficiência e o respeito aos seus direitos.
Por um lado encontramos a pessoa, o profissional, o estudante querendo seguir seu caminho independente da deficiência.

L: Por outro, existem os “oportunistas” que fazem da deficiência sua oportunidade de conseguir uma promoção na sociedade. Como você encara esse fato?
G: Eu acho repugnante quando as pessoas usam sua deficiência para se promover na sociedade. Hoje em dia estamos tendo acesso a escolas e universidades, para podermos nos promover sim, mas com o esforço de nosso trabalho.

L: Deixe o seu recado para os leitores.
G: As dificuldades estão sempre presentes e a luta é uma constante. Sinto que não posso parar, pois tenho muito pouco, mas sinto que posso contribuir para melhorar a qualidade de vida de muitos, que iguais a mim fazem parte de minorias, mas não têm a mesma perspectiva de luta. Sei que é uma batalha árdua, mas tudo só vale a pena quando conquistado. E é isso que tenho feito, conquistado espaço para os que como eu sofrem limitações.

(*) Luciane Maria Molina Barbosa é professora em Guaratinguetá e Lorena.

Um comentário:

  1. Luciane, esta matéria colocada no vejosaojose.com.br foi ótima. Parabéns!Seu blogo acompanho sempre..

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