terça-feira, 30 de setembro de 2014

Releitura do texto de Lac Lobato

Eu amo o Sistema Braille e 1/3 do meu tempo, divulgo a existência dele, falo da parte técnica e da parte poética. Falo da alegria de voltar a ler e escrever  depois de mais de uma década de prisão intelectual, recebendo informações vindas das vozes e olhos de alguém. Descrevo com o mesmo entusiasmo ler palavras soltas ou compreender a narrativa de uma história. A alfabetização em Braille é o alicerce mais forte da personalidade que eu me tornei. Se eu puder tirar todas as dúvidas e afastar os medos de quem me procura, eu faço isso para que as pessoas não percam nem mais um segundo sem tocar as palavras por receios ou por outras influências.
E é algo que faço de coração aberto, só porque a felicidade de reencontrar as informações não é algo que cabe no meu coração, é um sentimento tão grande, que preciso dividir.
Mas, admito que fico surpresa quando alguém diz "não entendo porque alguém pode ser contra o aprendizado do Sistema Braille".
Acho que a resposta é mais simples do que parece: pode, porque sim.
Para um cego  de nascença já com identidade formada, a cegueira não é uma deficiência, ela é um traço de personalidade. Enxergar  não está ligado ao prazer, não está ligado a informação (porque os outros sentidos no caso deles, dão conta), não está ligado a conexão com o mundo (porque o fazem através do tato, do olfato, do paladar e da audição). E, sobretudo, mexer com a realidade que a pessoa conhece, que sempre viveu, é desconfortável. Nem todo mundo gosta de sair da sua zona de conforto.
É claro que compreender o que eles sentem, nem sempre significa concordar. Para um vidente, a imagem tem um significado inestimável. Por isso que a maioria das pessoas fica triste ao perder a visão. Para um "enxergante", a visão  é a base do sentimento de comunidade, porque a comunicação se faz através dela.
Não escrevo isso para mudar a visão de ninguém, apenas um apelo ao respeito. Quem gosta de ler com os dedos, deve procurar entender e respeitar quem tem outras formas de acesso ao conhecimento como referência de identidade. Para quem não acha importante sentir o significado tátil das letras, que haja respeito por quem opta pela escrita pontográfica para si mesmo ou para o outro.
Compreender não significa concordar, apenas demonstrar respeito ao direito inalienável de escolha.
Pessoalmente, eu escolhi o Sistema Braille e é sobre ele que eu divulgo.
 
 
Luciane molina, releitura do texto abaixo da autora Lac Lobato
 
 
Eu amo o implante coclear e 1/3 do meu tempo, divulgo a existência dele, falo da parte técnica e da parte poética. Falo da alegria de voltar a ouvir depois de duas décadas e meia de silêncio. Descrevo com o mesmo entusiasmo ouvir folhas secas sendo esmagadas pelos nossos passos ou escutar Cavalgada das Valquírias de Wagner. O implante coclear é o alicerce mais forte da personalidade que eu me tornei. Se eu puder tirar todas as dúvidas e afastar os medos de quem me procura, eu faço isso para que as pessoas não percam nem mais um segundo em silêncio por receios.
E é algo que faço de coração aberto, só porque a felicidade de reencontrar os sons não é algo que cabe no meu coração, é um sentimento tão grande, que preciso dividir.
Mas, admito que fico surpresa quando alguém diz "não entendo porque alguém pode ser contra o implante coclear.".
Acho que a resposta é mais simples do que parece: pode, porque sim.
Para um surdo de nascença já com identidade formada, a surdez não é uma deficiência, ela é um traço de personalidade. Ouvir não está ligado ao prazer, não está ligado a informação (porque a visão, no caso deles, dá conta), não está ligado a conexão com o mundo (porque o fazem através da visão). E, sobretudo, mexer com a realidade que a pessoa conhece, que sempre viveu, é desconfortável. Nem todo mundo gosta de sair da sua zona de conforto.
É claro que compreender o que eles sentem, nem sempre significa concordar. Para um ouvinte, o som tem um significado inestimável. Por isso que a maioria das pessoas fica triste ao perder a audição. Para um ouvinte, a audição é a base do sentimento de comunidade, porque a comunicação se faz através dela.
Não escrevo isso para mudar a visão de ninguém, apenas um apelo ao respeito. Quem gosta de ouvir, deve procurar entender e respeitar quem tem a surdez como referência de identidade. Para quem não acha importante ouvir, que haja respeito por quem opta pelo implante coclear para si mesmo ou para o filho.
Compreender não significa concordar, apenas demonstrar respeito ao direito inalienável de escolha.
Pessoalmente, eu escolhi o implante coclear e é sobre ele que eu divulgo.
 
 

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