terça-feira, 30 de setembro de 2014

III Fórum de Inclusão aconteceu em Pindamonhangaba

III Fórum de Inclusão aconteceu em Pindamonhangaba
Eventos relacionados à temática da educação inclusiva vem ganhando espaço no cenário vale-paraibano. Assim como profissionais interessados em aprimorar o conhecimento de como acolher e interagir com as diferenças, pessoas com deficiência passaram a atuar ativamente e lutar pelo seu protagonismo. Por acreditar no potencial da pessoa com deficiência e para levar este assunto a um número maior de pessoas, o grupo Incluir e aprender foi criado na cidade de Pindamonhangaba no ano de 2011.
A ideia da formação do grupo surgiu durante um evento que participaram e a partir daí a união da fonoaudióloga Luciana Wolff, da psicóloga Beatriz Campos de Sá Rodrigues e da representante da família, Regina Célia se tornou realidade. Acreditam que o maior desafio da inclusão é a falta de informação. "No Brasil existem leis que garantem o direito de acessibilidade, de escola, de trabalho e lazer à todos. Precisamos conhecer e nos conscientizar dos meios para garantir que esses direitos não sejam desconhecidos, esquecidos ou ignorados".
Desde 2012 organizam anualmente, na cidade de Pindamonhangaba, o fórum de educação inclusiva, que neste ano está na sua terceira edição. De acordo com uma das organizadoras, a fonoaudióloga Luciana Wolff, a meta inicial era atingir cerca de 150 participantes, número que foi superado logo no ano seguinte, em 2013.
Neste ano, o III Fórum de Educação, com o tema Acolher e aprender com as Diferenças, foi realizado no dia 27 de setembro e contou com a presença de profissionais que trouxeram palestras técnicas, debates e relatos de experiências. As atividades aconteceram das 8:00H Às 17:00H.
Dentre os temas que foram abordados, Wantuir Francisco Siqueira Jacini falou sobre Exercícios Físicos e Neuroplasticidade: aplicações potenciais para crianças, Luciane Molina com o relato de experiência Vencer é Ultrapassar com o Olhar além Daquilo que se pode Ver, Luciana dos Santos Cordeiro de Mello e Daniel R. B. Nascimento que abordaram a filosofia institucional e plano de trabalho da Fundação Síndrome de Down, Lilia Barreto falando sobre AEE E Tecnologia Assistiva e, por fim, a palestra de Bel Dias com o site de encontros de professores de AEE do Brasil.
O grupo Incluir e Aprender atua na orientação de familiares e escolas, assessorias e consultorias em inclusão social. Além de também ministrar cursos e palestras em clinicas, instituições e escolas públicas e privadas.
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Este álbum possui 6 fotos e estará disponível no OneDrive até 29/12/2014.
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Serviço: III Fórum de Inclusão em Pindamonhangaba
Quando: 27 de setembro de 2014 – sábado
Onde: em Pindamonhangaba – SP
* Nas imagens apareço palestrando; mostrando o livro inclusivo adaptado por uma aluna de Caraguatatuba; junto com as idealizadoras do evento.
 

Relato de Experiência no III Fórum de Inclusão em Pindamonhangaba

Vencer é ultrapassar com o olhar além daquilo que se pode ver

Luciane Maria Molina Barbosa

Tocar nas figuras, ouvir as imagens, sentir o aroma e o sabor das cores foi algo extremamente natural pra mim desde muito cedo. Foi através dos "olhos" de alguém que fui construindo meu vasto repertório de imagens e me interessando por tudo aquilo que faz parte do mundo real, sem que me excluíssem das atividades comuns. Sempre freqüentei o ensino regular, mesmo em uma época que falar sobre "inclusão" era utopia. Quebrei todos os protocolos e nunca fui a "aluna especial" aos olhos daqueles professores e colegas de classe. Meus pais sempre foram os heróis de uma história que ainda está em construção, porque continuam a caminhada comigo num ato de doação pela causa da pessoa com deficiência visual. Apesar de ter conseguido ser alfabetizada em tinta, com uso de potentes lupas e letras extremamente ampliadas, num certo momento já não conseguia ler nem escrever. Até aprender o Sistema Braille, com 12 anos de idade, apenas lia e escrevia mais pelos "olhos" e "vozes" que eram emprestadas gentilmente, ora dos meus pais, ora dos colegas de classe e professores. A visão cada vez menor não reduziu minhas perspectivas de acesso ao conhecimento. Alimentar-me com informação tornou-se algo vital. Aprendi o sistema Braille em quatro meses e o mundo transformara em letras, palavras, sentenças, histórias infinitas, lidas por meio do meu próprio esforço. Escolhi como carreira o magistério e formei-me pedagoga. A ausência de profissionais habilitados para o ensino do Braille em minha região despertou o meu interesse em contribuir para que as pessoas cegas deixassem o conformismo e se libertassem da prisão intelectual a qual estavam submetidas. Através da educação eu poderia comunicar e informar, ensinar e transformar realidades por onde pisasse. Nunca consegui enxergar os limites apesar da cegueira; ultrapassar barreiras significa enxergar potencialidades onde a sociedade rotula incapacidades. Minha trajetória profissional teve início com a alfabetização e reabilitação de pessoas cegas. Mais tarde, porém, percebi que a inclusão não é um processo isolado, dentro de um espaço exclusivo e sem desafios. Passei a formar professores e outros profissionais para atenderem pessoas cegas ou com baixa visão no ensino regular. Tornei-me palestrante, consultora e uma estudiosa incansável. Em quase quatorze anos de atuação na educação especial e inclusiva, sinto-me grata por cada desafio encontrado, por cada "olhar" positivo de surpresa ou de reprovação recebido, porque a beleza da vida é compartilhar conhecimento, realizar sonhos e ultrapassar as barreiras visíveis, e até mesmo as invisíveis, embora tenhamos a certeza de que perceber o mundo através dos sentidos seja algo mágico e, ao mesmo tempo, um ato de coragem que aprendemos diariamente. A inclusão é construída na coletividade, por isso, permita-se adentrar nesse espaço tão desafiador; permita-se atravessar essa estrada, porque juntos podemos enxergar ainda mais longe!

* Pedagoga e pessoa com deficiência visual. Especialista em atendimento Educacional especializado (UNESP). Pós-graduanda pela UNIFEI em Tecnologias, Formação de Professores e Sociedade.

Atua há mais de 13 anos com educação especial e inclusiva, com trabalhos voltados à alfabetização Braille, tecnologia assistiva, audiodescrição e formação de professores. Vencedora do IV Prêmio Sentidos (2011)do IV Prêmio Ações Inclusivas (2013), palestrante e colunista. Mantém o blog www.braillu.com

Releitura do texto de Lac Lobato

Eu amo o Sistema Braille e 1/3 do meu tempo, divulgo a existência dele, falo da parte técnica e da parte poética. Falo da alegria de voltar a ler e escrever  depois de mais de uma década de prisão intelectual, recebendo informações vindas das vozes e olhos de alguém. Descrevo com o mesmo entusiasmo ler palavras soltas ou compreender a narrativa de uma história. A alfabetização em Braille é o alicerce mais forte da personalidade que eu me tornei. Se eu puder tirar todas as dúvidas e afastar os medos de quem me procura, eu faço isso para que as pessoas não percam nem mais um segundo sem tocar as palavras por receios ou por outras influências.
E é algo que faço de coração aberto, só porque a felicidade de reencontrar as informações não é algo que cabe no meu coração, é um sentimento tão grande, que preciso dividir.
Mas, admito que fico surpresa quando alguém diz "não entendo porque alguém pode ser contra o aprendizado do Sistema Braille".
Acho que a resposta é mais simples do que parece: pode, porque sim.
Para um cego  de nascença já com identidade formada, a cegueira não é uma deficiência, ela é um traço de personalidade. Enxergar  não está ligado ao prazer, não está ligado a informação (porque os outros sentidos no caso deles, dão conta), não está ligado a conexão com o mundo (porque o fazem através do tato, do olfato, do paladar e da audição). E, sobretudo, mexer com a realidade que a pessoa conhece, que sempre viveu, é desconfortável. Nem todo mundo gosta de sair da sua zona de conforto.
É claro que compreender o que eles sentem, nem sempre significa concordar. Para um vidente, a imagem tem um significado inestimável. Por isso que a maioria das pessoas fica triste ao perder a visão. Para um "enxergante", a visão  é a base do sentimento de comunidade, porque a comunicação se faz através dela.
Não escrevo isso para mudar a visão de ninguém, apenas um apelo ao respeito. Quem gosta de ler com os dedos, deve procurar entender e respeitar quem tem outras formas de acesso ao conhecimento como referência de identidade. Para quem não acha importante sentir o significado tátil das letras, que haja respeito por quem opta pela escrita pontográfica para si mesmo ou para o outro.
Compreender não significa concordar, apenas demonstrar respeito ao direito inalienável de escolha.
Pessoalmente, eu escolhi o Sistema Braille e é sobre ele que eu divulgo.
 
 
Luciane molina, releitura do texto abaixo da autora Lac Lobato
 
 
Eu amo o implante coclear e 1/3 do meu tempo, divulgo a existência dele, falo da parte técnica e da parte poética. Falo da alegria de voltar a ouvir depois de duas décadas e meia de silêncio. Descrevo com o mesmo entusiasmo ouvir folhas secas sendo esmagadas pelos nossos passos ou escutar Cavalgada das Valquírias de Wagner. O implante coclear é o alicerce mais forte da personalidade que eu me tornei. Se eu puder tirar todas as dúvidas e afastar os medos de quem me procura, eu faço isso para que as pessoas não percam nem mais um segundo em silêncio por receios.
E é algo que faço de coração aberto, só porque a felicidade de reencontrar os sons não é algo que cabe no meu coração, é um sentimento tão grande, que preciso dividir.
Mas, admito que fico surpresa quando alguém diz "não entendo porque alguém pode ser contra o implante coclear.".
Acho que a resposta é mais simples do que parece: pode, porque sim.
Para um surdo de nascença já com identidade formada, a surdez não é uma deficiência, ela é um traço de personalidade. Ouvir não está ligado ao prazer, não está ligado a informação (porque a visão, no caso deles, dá conta), não está ligado a conexão com o mundo (porque o fazem através da visão). E, sobretudo, mexer com a realidade que a pessoa conhece, que sempre viveu, é desconfortável. Nem todo mundo gosta de sair da sua zona de conforto.
É claro que compreender o que eles sentem, nem sempre significa concordar. Para um ouvinte, o som tem um significado inestimável. Por isso que a maioria das pessoas fica triste ao perder a audição. Para um ouvinte, a audição é a base do sentimento de comunidade, porque a comunicação se faz através dela.
Não escrevo isso para mudar a visão de ninguém, apenas um apelo ao respeito. Quem gosta de ouvir, deve procurar entender e respeitar quem tem a surdez como referência de identidade. Para quem não acha importante ouvir, que haja respeito por quem opta pelo implante coclear para si mesmo ou para o filho.
Compreender não significa concordar, apenas demonstrar respeito ao direito inalienável de escolha.
Pessoalmente, eu escolhi o implante coclear e é sobre ele que eu divulgo.
 
 

Instituto Federal recebe orientações da SEPEDI para Incluir alunos com cegueira e surdez nos cursos do PRONATEC

Instituto Federal recebe orientações da SEPEDI para Incluir alunos com cegueira e surdez nos cursos do PRONATEC
Na última quinta-feira (18), duas profissionais da equipe técnica da Secretaria municipal da Pessoa com Deficiência e do Idoso (SEPEDI) estiveram em reunião no Instituto Federal com os professores do PRONATEC a fim de levar orientações acerca da inclusão de alunos com cegueira e surdez nos cursos ofertados no campus de Caraguatatuba.
Esta parceria com a SEPEDI foi solicitada pela assistente de alunos do IF, Maíra Ferreira Martins, diante da necessidade em levar conhecimento para os professores sobre estratégias inclusivas e tecnologias que pudessem ser aplicadas para auxiliar um aluno cego matriculado no curso aconselhador em Dependência Química e o aluno com surdez que frequenta o curso Operador de Computador, ambos ofertados pelo PRONATEC. O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) foi criado pelo Governo Federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica.
A pedagoga especialista em deficiência auditiva/LIBRAS Marcela Sugahara e a consultora em deficiência visual Luciane Molina, ambas representantes da SEPEDI, se reuniram com a assistente Mayra Martins, com o coordenador pedagógico do PRONATEC do IF, Márcio Vieira, e mais quatro professores numa reunião bastante produtiva que durou cerca de duas horas. Durante este encontro trataram sobre temas pontuais referentes a inclusão de alunos com deficiência e a postura protagonista das instituições diante da demanda de estudantes cegos e surdos em cursos do PRONATEC. Foram oferecidas orientações quanto ao envolvimento dos professores com atividades que possam contemplar esse público, a escuta desses professores com relação a experiência que estão vivendo, demonstração de tecnologias assistivas e do uso da informática como um recurso a mais para que alunos cegos possam ler os materiais, realizarem avaliações e participarem em igualdade com os demais cursistas. Além disso, a especialista em deficiência visual, Luciane Molina, que também é cega, fez um relato de suas experiências enquanto aluna e, posteriormente profissional que atua na área da educação inclusiva.
A fala dos professores e da coordenação só reforçou que a presença de alunos com deficiência traz um ganho para toda a comunidade envolvida. Os relatos também mostraram o envolvimento espontâneo dos colegas de curso e a mobilização para conviver com os alunos com deficiência, incluindo-os nas atividades acadêmicas e no convívio social. Entretanto conhecer de perto alguns recursos da tecnologia assistiva trouxe uma nova perspectiva para esses professores, ampliando mais as possibilidades de aplicar esse conhecimento em suas aulas. O Instituto Federal se mostrou aberto e receptivo às informações. Se dispuseram a oferecer tais recursos para os alunos cegos e a SEPEDI se colocou a disposição para auxiliá-los e orientá-los sempre que necessário, inclusive para a instalação do software no computador para o uso pelo aluno do curso de Aconselhador em Dependência Química.
A Secretaria da Pessoa com Deficiência e do Idoso (SEPEDI, através da secretária Municipal Ivy Monteiro Malerba, tem como objetivo articular ações que visam promover, proteger e assegurar os direitos das pessoas com deficiência e do idoso de Caraguatatuba. Para maiores informações o telefone da SEPEDI é o 08007747055. Horário de funcionamento das 8:00H Às 17:00H.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Palestra na FAPI em 29 de setembro

Setembro de muito trabalho. Hoje na FAPI - Faculdade de Pindamonhangaba palestrando para mais de 100 alunos. Agradeço pela oportunidade de levar o conhecimento para muitas pessoas.
 
Quando recebi o convite para falar e levar a minha história para os alunos do curso de administração da FAPI, desafiei os meus próprios conceitos sobre educação e pedagogia, já que a proposta era falar sobre "empreendedorismo". Pensei em que eu contribuiria para a formação desses alunos falando sobre inclusão escolar e social da pessoa com deficiência visual? Descobri, então, que trabalhar com Inclusão tem tudo a ver com "empreendedorismo". Trabalhar pela inclusão é ousar, é criar e redescobrir diferentes formas para transformar as dificuldades em oportunidades. O processo de inclusão traz consigo a ideia de movimento, sair da condição de expectador para se transformar em protagonista desse processo. Tanto empreender quanto incluir requerem tomadas de decisão e a ruptura de paradigmas. Pessoas com deficiência tem saído de suas casas para frequentarem escolas, competirem no mercado de trabalho, consumirem serviços e produtos e, embora esse protagonismo seja recente, a quebra das barreiras atitudinais, comunicacionais e arquitetônicas precisa ser uma realidade. Criar soluções que levem pessoas com alguma deficiência a participarem desse mundo competitivo e, pra elas, esse mesmo mundo se torna duplamente mais competitivo, porque além de provarem que conseguem desempenhar uma tarefa com excelência, elas precisam comprovar que seus alcances são maiores do que os limites. Esses limites que não são trazidos pela deficiência, mas pela falta de um livro em Braille ou no formato digital, pela ausência da audiodescrição, pela não existência de um cardápio acessível ou de um piso tátil, entre outros...
 
Assim discorri sobre inclusão e empreendedorismo, contei um pouco da minha história e de como as soluções criativas se fizeram presentes e necessárias durante toda minha trajetória. Falei também sobre as formações que ministro para que o conhecimento atinja o maior número de pessoas. Em seguida contei sobre o Projeto Selo Empresa Inclusiva de Caraguatatuba e mostrei fotos que retratam as diferentes formas que encontrei para enxergar o mundo a minha volta. Trouxe o conceito sobre Braille e leitura inclusiva, demonstrei algum uso da tecnologia assistiva e como relacionar-se com pessoas cegas para ajudá-las na locomoção. foi uma noite muito agradável e bastante produtiva, porque trouxe comigo o carinho daqueles alunos e professores que, por quase duas horas, estiveram atentos e participativos.
 
Obrigada FAPI. Obrigada Professor andré Aquino.
 
 

domingo, 21 de setembro de 2014

Dia de Luta da PCD

Hoje é o Dia de Luta da Pessoa com Deficiência. Comemorado em 21 de setembro, a data foi escolhida pela proximidade com a primavera e por ser o dia nacional da árvore. Esse é um momento de renovar sentidos e plantar ações que contribuam para a efetivação dos direitos das pessoas com deficiência pela inclusão e pela acessibilidade. Vamos semear "INCLUSÃO" nos nossos dias?!
 
21 de setembro, Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. #vídeo http://t.co/ck5NDFYgzC
Para as pessoas com deficiência visual, acessem o Vídeo com audiodescrição

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Setembro, a renovação dos sentidos

Meu mundo sempre foi repleto de muitos sons, aromas, sabores e texturas. Experimentei desde muito cedo formas alternativas para conseguir enxergar o que a visão não alcançava e nem por isso me vi incapaz de conhecer e conviver com as diversas possibilidades que me eram oferecidas. construí meu repertório de imagens táteis, figuras perfumadas, fotografias coloridas, movimentos audiodescritos e lembranças saborosas dos momentos vividos. Alguns desses momentos ficarão registrados eternamente porque desafiaram-me a novas sensações. O recomeço sempre tem o sentido de movimento, embora muitas pessoas encarem as mudanças como etapas novas em suas vidas. Pelo contrário, cada novo desafio é continuidade daquilo que deveria ser e que se encaixa perfeitamente no curso da nossa história. Não caminhamos desgovernados, sem um roteiro, nem um propósito. Almejamos metas, traçamos objetivos, projetamos lá pra frente a esperança do que desejamos alcançar e é por causa dessa infinita busca que nos movimentamos sempre.
 
Lembro-me com detalhes um pouco da angústia que sentia quando fui desafiada pelo meu professor de ciências a aprender Braille ainda no sexto ano do ensino fundamental. Seguidas vezes em suas aulas ele insistiu para que eu procurasse uma professora que me ensinaria essa diferente maneira de ler e escrever. Embora sua intenção fosse minimizar minha  fadiga visual com as letras ampliadíssimas e potentes lupas que eu usava, tentava disfarçar o incômodo e desconversava. O que eu não sabia, porém, é que estaria há exatos quatro meses de um acontecimento que mudou a direção dessa caminhada. Conhecendo o Braille tive a certeza de que aquela escrita pontográfica revolucionaria o modo pelo qual passei a interagir com a informação lida e escrita.
 
Em poucos minutos descobri que o mundo cabe na ponta dos dedos e ganhei autonomia para viajar através das histórias escritas por muitas mãos. Foram apenas quatro meses de aula e uma vida inteira desenhada simetricamente através dos arranjos de pontos tateados, que unidos passaram a representar milhares de imagens, sons, aromas, texturas e sabores. Sou tão grata ao Braille quanto também sou grata a esse professor de ciências que me abriu os "olhos" para um vasto e rico universo ainda obscuro, embora essas tantas histórias, até então, tenham  sido guiadas por vozes e pela visão emprestadas de alguém.
 
Trago também o reconhecimento pelo trabalho primoroso daquela, que então, era a única professora de Braille da minha cidade e que, mesmo sem saber, me inspirou a escolher o magistério como profissão, numa tentativa incansável em libertar dezenas de pessoas cegas da escuridão intelectual que estariam vivendo. O reconhecimento a uma incansável guerreira, minha mãe, que me apresentou e propôs esse desafio.
 
Setembro, mês em que comemoramos a primavera, no simbolismo de uma vida que se renasce, também é a linha que separa a minha prisão intelectual da minha liberdade comunicacional, graças ao aprendizado do Braille. Foi nesse mês que tive o prazer de "tatear" o primeiro livro, a primeira história lida, sentida e comemorada a cada página virada. Avancei nos estudos e apesar  disso só consegui compreender a belíssima mensagem do "Pequeno Príncipe" ao retomar a leitura do começo e pela segunda vez já conseguia interpretar cada frase dentro do seu contexto.
 
Realmente o "Essencial é invisível aos olhos" porque nem tudo depende do olhar; também existe a beleza de ver com as mãos e com os outros sentidos. Talvez esse novo olhar mereça uma chance no coração da gente.
 
Já devorei muitos livros, alegrei-me e comemorei por cada novo título em Braille recebido. Já fiquei frustrada com o descaso das editoras em produzirem suas obras em formato acessível e conservo ainda o desejo de entrar em uma livraria para comprar um livro em Braille. Como pedagoga e professora de Braille, tornei-me representante da educação especial e inclusiva e já divulguei o método Braille em cursos, palestras e seminários para centenas de pessoas cegas ou videntes. Jamais deixei que as tecnologias exercessem influência negativa sobre a forma tátil de leitura e apesar disso aprendi que se não fosse pela  leitura digital eu permaneceria isolada do universo cultural e educacional. Os livros em Braille somem das nossas prateleiras numa proporção inversa a vontade de que a leitura pontográfica preencha nossa vida de histórias. Hoje, creio que para comemorar o "setembro" de redescobertas recebi quase uma dezena de exemplares de livros em Braille, os quais vieram como presentes nessa renovação de sentidos. Finalizo reafirmando que a experiência da leitura em Braille é singular, pois tocar as palavras representa também percebe-las através de todos os sentidos.
 
Luciane Molina