terça-feira, 9 de outubro de 2012

Braille é Vida?

        Quando pontos salientes surgem por baixo dos dedos delineando um contorno simétrico circular em relevo, é como se sentíssemos o milagre da multiplicação celular que faz nascer a vida. Assim se processa o aprendizado do código Braille, método de leitura tátil e escrita utilizada por pessoas com deficiência visual.
 
Criado na França no início do século XIX, o sistema Braille ganhou o mundo quase 50 anos mais tarde adentrando na vida de milhares de pessoas cegas. Ainda hoje é preciso investir esforços para aumentar sua popularidade. Os principais motivos apontados é a falta de profissionais habilitados para o uso e ensino do Braille, escassez de materiais produzidos nesse sistema e o avanço do uso da tecnologia e dos livros falados em detrimento da escrita e leitura analógica.
 
Este terceiro fator é o mais alarmante dentre tantas outras dezenas de justificativas que podemos encontrar. Sem negar sua importância e seu papel preponderante para o desenvolvimento e progresso humano, não podemos ficar reféns de uma alfabetização pautada apenas em sons, o que ocorre com o uso desregrado dos sintetizadores de voz durante o período escolar.
 
O aprendizado do sistema Braille continua sendo essencial e imprescindível nos dias atuais, possibilitando o contato direto com as formas gramaticais e ortográficas de uma língua. Porém para que esse aprendizado seja bem sucedido é preciso que tanto a família quanto a escola se envolvam e se mobilizem para proporcionar melhores condições de acesso e a quebra da barreira comunicacional. Palestras, momentos de sensibilização, cursos, dinâmicas, reuniões são alguns caminhos que podem ser trilhados na tentativa de difundir o ensinamento sobre o sistema Braille e o apoio a esses estudantes que necessitam de estratégias alternativas e adaptação para a acessibilidade curricular.
 
Mas há de se tomar muito cuidado para que esse ensinamento seja conduzido por profissionais que dominem esse código e todas as etapas que envolvem o processo de alfabetização, não correndo o risco de um fracasso escolar eminente. O empoderamento das pessoas cegas à informação também depende dos profissionais envolvidos e empenhados por essa causa e, sobretudo, do incentivo familiar.
 
Por outro lado, Braille não é nem deve se configurar como símbolo de cegueira. O estigma é o maior dos preconceitos e instrumento de exclusão social, pois equipara, julga, padroniza e rotula as pessoas. As diferenças individuais não podem se configurar como características que reforçam a invisibilidade de um segmento, nem serem tratadas tão superficialmente negligenciando o direito aos recursos facilitadores da acessibilidade, já que as necessidades são individuais e próprias a cada cidadão. Daí dizer que o Braille não foi feito para a minoria. Ele deve ser compreendido no seu sentido mais amplo e jamais restrito apenas para  os cegos.
 
O Braille é "vida", no sentido mais amplo, quando possibilita que o "mundo" renasça na ponta dos dedos, com sentidos e significados muito peculiares, conseguidos mediante o movimento sutil e o toque preciso nos pontos em relevo, que dão forma e desafiam a imaginação. Braille é "vida" porque não tem distinção, sendo um instrumento para a inclusão social, com a participação de todos, cegos ou videntes, daqueles que desejam ser o "ponto" positivo para essa conquista.
 
E o desafio proposto é justamente para que você preencha os seus "pontos" favoritos na conquista pelo aprendizado do código Braille. Imprima o alfabeto acima e junte-se a nós!!!
 
Atenção: ter domínio do código Braille não representa apenas decodificar pontos ou decorar apenas um alfabeto com 26 letras. Exige domínio de outras habilidades, conhecimento de técnicas e de outros tantos símbolos. O alfabeto apresentado é apenas uma prévia, que tem por objetivo apresentar o básico dessa simbologia, desmitificando sua complexidade. Pontos não devem ser decorados, mas sim associados a alguma figura ou imagem mental significativa, para que passem a ter sentido e não se configure como um domínio mecânico e descontextualizado. chamamos isso de percepção imagética e simbólica.
 
 
 
 
 
 

 

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