sexta-feira, 10 de maio de 2013

Palestra no XI congresso Interdisciplinar em Poços de caldas MG

Na manhã dessa sexta-feira (10), ministrei uma palestra no XI Congresso Interdisciplinar em Poços de Caldas - MG. Falei sobre o capítulo que escrevi no livro Educação Digital. A palestra teve duração de 40 minutos para um público de cerca de 200 pessoas. Antes do evento concedi entrevista para a TV Plan de Poços de Caldas. Confiram o resumo abaixo:
 
Palestra:  Informática e Deficiência Visual, uma relação possível em todas as idades
 
Luciane Molina *
braillu@uol.com.br
 
Com o avanço da tecnologia, muitas tarefas que antigamente eram executadas por pessoas, passam a ser executadas pelos computadores, o que resultou, a partir do final  do século XX e início do Século XXI, numa mudança no modo de vida de toda humanidade. No caso da pessoa com deficiência visual, pode dizer-se que a evolução e o desenvolvimento tecnológico tem trazido inúmeras conquistas antes jamais imaginadas. Isso implica na possibilidade de interagir com as máquinas através das tecnologias assistivas.
 
Nesse sentido, trago algumas reflexões a respeito do uso da tecnologia pelas pessoas cegas e a formação de professores, a partir do relato de experiência sobre como se deu o meu acesso aos computadores e, posteriormente, como autora e ministrante de cursos para capacitar os profissionais para o ensino eficiente do software Dosvox. Assim como abordado por mim  no capítulo  do livro Educação Digital: a tecnologia a favor da inclusão,  Pretendo levar a informação sobre a informática e a deficiência visual, como uma relação possível de ser construída em todas as idades. São pessoas  que passam a utilizar os computadores como fator de inclusão social, seja dentro do ambiente escolar, seja para a aquisição de habilidades profissionais e garantia da permanência no mercado de trabalho.
 
A partir da demonstração prática do uso do software Dosvox, pretendo fornecer algumas orientações e diretrizes que poderão facilitar o acesso aos computadores pelas pessoas cegas, iniciantes em informática.
 
A criação do sistema Braille no século XIX, na França, foi, sem dúvida, a primeira grande revolução para os cegos. ele permitiu que todas as pessoas cegas pudessem ler por intermédio dos dedos, utilizando o tato, possibilitando, assim, o acesso à informação. Porém ainda hoje pouco difundido, o domínio e utilização plenos do Braille requer técnicas específicas e, por vezes, a mediação de uma pessoa que enxerga, para transcrever para tinta, fielmente, todo o conteúdo em relevo, tornando-o legível para todos os que desconhecem esses  sinais. Soma-se a isso, a ausência de materiais e livros em Braille, assim como o alto custo para sua produção.
 
Desse modo, a tecnologia veio romper todas as barreiras de acesso à informação pela pessoa cega. É  o que costumo dizer, que "os computadores se transformaram em nossos olhos", pois como pessoa cega e consumidora de informação, tive contato com diversos recursos e elementos facilitadores para a conquista da minha autonomia e independência, dentre eles um  computador. A superação dessas dificuldades para a realização das atividades comuns veio a partir do momento em que se tornou possível a minha aproximação com esses softwares, que transformam os signos visuais em sons, o que se deu no ano de 2000. E assim, onde quer que haja um computador, há também a possibilidade de torná-lo acessível.
 
 Um usuário normal de computadores tem contato direto com o Hardware e, por meio deste, aos
programas (aplicativos). Quando um software de voz ou um  Leitor de Telas é instalado, ele coloca-se entre o usuário e o
Hardware e também entre o usuário e o aplicativo. Passa a capturar informações sobre as ações
do usuário e as respostas do computador, tanto do Hardware quanto do Software, convertendo-se em sons.
 
Por outro lado, a garantia dessa inclusão digital passa pelo investimento em equipamentos e softwares, formação de professores para atuarem com a tecnologia em sala de aula e previsão  das possíveis adaptações para esse público, já que as próprias tecnologias também impõe algumas limitações pela presença de uma estrutura gráfica intuitiva, comuns aos sistemas operacionais e que precisam ser interpretadas pelos softwares por meio da síntese de voz. Reside aí a necessidade do investimento no preparo desse profissional, pois será ele o mediador entre a ação desejada e a tarefa executada. Apenas equipar uma escola não é a garantia de conseguir um bom índice de aproveitamento. Esse profissional deve, antes de mais nada,  conhecer quais seriam as aplicações reais e formas de utilização dos computadores e desses softwares, compreendendo toda a interface sonora e os meios pelos quais as pessoas cegas aprendem sem terem disponíveis as mesmas pistas visuais, como, por exemplo, possibilidade de ajuste do timbre, velocidade e tipo de fala, troca de idioma de pronúncia, comandos e sistema de ajuda  via teclado em substituição ao apontar do mouse, importância do teste de teclado com  a sonorização das letras no lugar das teclas com anotações em Braille, menus interativos e sistema de ajuda que mostra todas as opções, entre outros.
 
Foi no início da década de 90 que surgiram as primeiras possibilidades de uma pessoa com deficiência visual utilizar computadores.  Essa era uma realidade ainda distante para os cegos brasileiros, até a criação do sistema Dosvox, no ano de 1993, sob supervisão do Professor José Antonio Borges,  ainda hoje a frente desse  Projeto, que recebe novas implementações e  ganha novas funções  a cada novo aplicativo incorporado ao software. Hoje o Sistema Dosvox conta com mais de uma centena de aplicativos e milhares de usuários espalhados por diferentes países. Por ser um sistema bastante simplificado e apresentar de forma lúdica e pedagógica muitas funções necessárias à compreensão dos elementos que constituem a alfabetização digital das pessoas cegas, é um dos preferidos para uso tanto com crianças em idade escolar ou com adultos que necessitam da aquisição de conceitos da informática.
 
Nesse cenário de grandes evoluções tecnológicas as pessoas com deficiências ganham o mundo e podem explorá-lo. Sob seu contexto social, quanto mais tecnologias disponíveis e quanto maior for essa interação, menor será o impacto causado pela deficiência no meio educacional, cultural, profissional ou social.
 
* Luciane Maria  Molina Barbosa é pessoa com deficiência visual,  braillista e pedagoga.  É especialista em Atendimento Educacional Especializado pela UNESP/ffc/SECADI e cerca de 72 cursos de formação e extensão na área da deficiência. Atuou durante mais de 11 anos com educação inclusiva pela Secretaria Municipal de Educação de Lorena, sendo uma das responsáveis pela implantação das salas de recursos multifuncionais, coordenando os trabalhos do AEE no município por meio do Projeto VIDA (Vivenciando a Inclusão, Diversidade em ação),sendo premiada no III Prêmio Ações Inclusivas, em 2012. Atua   com alfabetização Braille, inclusão digital pelo sistema Dosvox e leitores de tela e  formação de professores. Palestrante, colunista do blog Guia Inclusivo e autora de diversos artigos publicados em revistas e jornais. Colaboradora da Revista Reação. Vencedora do IV Prêmio Sentidos e mantém o blog Espaço Braille <www.braillu.com>. É também revisora e consultora em audiodescrição.  
 
 

 
 

 

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