A Inclusão do Professor com Deficiência nas Escolas Brasileiras
Luciane Molina *
durante esses anos que tenho utilizado as mídias como parceiras na divulgação de atitudes capazes de contribuir para uma sociedade mais inclusiva, minhas falas, quase sempre estiveram voltadas, de certa forma, para a educação inclusiva sob a perspectiva do aluno com deficiência. Porém é possível e necessário que pensemos em como incluir um professor com deficiência no espaço escolar, e aí, nossa discussão se torna ainda mais ampla e complexa.
Ora, se queremos experimentar uma escola que acolhe e valoriza a diversidade de seus educandos, será muito coerente pensar que esses educandos serão os candidatos a educadores de amanhã. Então como acolher esses profissionais no ambiente escolar e de que forma esse contato colabora com a formação dos alunos?
Na posição de "professor", a pessoa com deficiência ocupa um papel de referência e todas as suas atitudes provocam efeitos significativos para os alunos, que percebem as diferenças como algo natural e peculiar a cada um. Passam a respeitar os limites, reconhecem as lutas desses docentes para ter seus direitos respeitados e compreendem quais as barreiras mais urgentes a serem quebradas, pois a deficiência não pode ser um impedimento a aquisição e a transmissão do saber.
Incluir um profissional com deficiência nas escolas colabora com a formação dos alunos porque ensina os estudantes a perceberem diferenças no que, antes, parecia homogêneo. Trata-se de um processo pedagógico de reconhecimento de si mesmo, do outro e do mundo, sem que a presença desses docentes seja encarada pelo estigma da incapacidade. Um espaço inclusivo não é aquele em que convivemos com os iguais, mas aquele que possibilita ser transformado a cada instante e se torne um ambiente melhor para todos.
Ainda hoje, o Censo Escolar de 2012 nos mostra que a presença de professores com deficiência física nas escolas públicas brasileiras é predominante, com mais de 2,5 mil de um universo de pouco mais de 6 mil, apesar da falta de acessibilidade arquitetônica. Porém, o cotidiano de trabalho é repleto de estratégias adotadas para contornar essas barreiras físicas. Muitas das soluções são improvisadas, como uma rampa construída, uma porta alargada, mudança de salas para o térreo, rebaixamento de mobiliários, entre outros.
Aparentemente essas soluções são relativamente mais fáceis de serem adotadas do que conseguir produzir materiais bem adaptados para surdos ou cegos, que representam uma fatia bem estreita desse universo, sendo 136 cegos, 208 surdos e 48 possuem deficiência intelectual.
De certa forma, historicamente as pessoas com deficiência enfrentam um cenário marcado por barreiras e preconceitos, agravados principalmente pela falta de acesso a materiais adaptados à sua condição, como é o caso dos impressos em Braille e do conhecimento da Língua Brasileira de sinais (LIBRAS), ambos para facilitar a comunicação. Soma-se a isso, a escassez de investimentos na formação especializada de professores, um dos grandes desafios para as Universidades Brasileiras. É urgente que a formação do professor esteja preocupada com o ensino de LIBRAS, Braille e da tecnologia assistiva, para que esses métodos e recursos não fiquem apenas concentrados nas mãos de alguns poucos profissionais detentores desse conhecimento. A democratização dessas técnicas propiciam a ruptura de um modelo assistencialista e, consequentemente, das próprias barreiras atitudinais antes muito visíveis, ao agir com paternalismo ou acreditar que as pessoas com deficiência estariam fadadas ao fracasso escolar e profissional.
Ampliar as formas de acesso e democratizar os meios de comunicação, pelos quais as pessoas com deficiência possam ter contato com o conhecimento, ter disponíveis os seus materiais e adaptações arquitetônicas para que consigam freqüentarem os locais livremente, é o resultado de uma luta constante pelo reconhecimento profissional dos professores com deficiência, que só serão capazes de vencer a barreira da invisibilidade quando seus direitos forem respeitados e quando sua capacidade for reconhecida. Nesse sentido, cabe aos governantes e aos gestores públicos estarem abertos para receber essa demanda e reconhecer nesses profissionais suas capacidades laborais dentro das escolas públicas brasileiras.
* Luciane Molina é pedagoga e pessoa com deficiência. Atua há mais de 11 anos com educação inclusiva e possui especialização em Atendimento Educacional Especializado. Palestrante e autora do "Espaço Braille": www.braillu.com
* Luciane Molina é pedagoga e pessoa com deficiência. Atua há mais de 11 anos com educação inclusiva e possui especialização em Atendimento Educacional Especializado. Palestrante e autora do "Espaço Braille": www.braillu.com
Texto originalmente publicado em: