domingo, 26 de maio de 2013

A Inclusão do Professor com Deficiência nas Escolas Brasileiras

A Inclusão do Professor com Deficiência nas Escolas Brasileiras

Luciane Molina *

durante esses anos que tenho utilizado as mídias como parceiras na divulgação de atitudes capazes de contribuir para uma sociedade mais inclusiva, minhas falas, quase sempre estiveram voltadas, de certa forma, para a educação inclusiva sob a perspectiva do aluno com deficiência. Porém é possível e necessário que pensemos em como incluir um professor com deficiência no espaço escolar, e aí, nossa discussão se torna ainda mais ampla e complexa.
Ora, se queremos experimentar uma escola que acolhe e valoriza a diversidade de seus educandos, será muito coerente pensar que esses educandos serão os candidatos a educadores de amanhã. Então como acolher esses profissionais no ambiente escolar e de que forma esse contato colabora com a formação dos alunos?
Na posição de "professor", a pessoa com deficiência ocupa um papel de referência e todas as suas atitudes provocam efeitos significativos para os alunos, que percebem as diferenças como algo natural e peculiar a cada um. Passam a respeitar os limites, reconhecem as lutas desses docentes para ter seus direitos respeitados e compreendem quais as barreiras mais urgentes a serem quebradas, pois a deficiência não pode ser um impedimento a aquisição e a transmissão do saber.
Incluir um profissional com deficiência nas escolas colabora com a formação dos alunos porque ensina os estudantes a perceberem diferenças no que, antes, parecia homogêneo. Trata-se de um processo pedagógico de reconhecimento de si mesmo, do outro e do mundo, sem que a presença desses docentes seja encarada pelo estigma da incapacidade. Um espaço inclusivo não é aquele em que convivemos com os iguais, mas aquele que possibilita ser transformado a cada instante e se torne um ambiente melhor para todos.
Ainda hoje, o Censo Escolar de 2012 nos mostra que a presença de professores com deficiência física nas escolas públicas brasileiras é predominante, com mais de 2,5 mil de um universo de pouco mais de 6 mil, apesar da falta de acessibilidade arquitetônica. Porém, o cotidiano de trabalho é repleto de estratégias adotadas para contornar essas barreiras físicas. Muitas das soluções são improvisadas, como uma rampa construída, uma porta alargada, mudança de salas para o térreo, rebaixamento de mobiliários, entre outros.
Aparentemente essas soluções são relativamente mais fáceis de serem adotadas do que conseguir produzir materiais bem adaptados para surdos ou cegos, que representam uma fatia bem estreita desse universo, sendo 136 cegos, 208 surdos e 48 possuem deficiência intelectual.
De certa forma, historicamente as pessoas com deficiência enfrentam um cenário marcado por barreiras e preconceitos, agravados principalmente pela falta de acesso a materiais adaptados à sua condição, como é o caso dos impressos em Braille e do conhecimento da Língua Brasileira de sinais (LIBRAS), ambos para facilitar a comunicação. Soma-se a isso, a escassez de investimentos na formação especializada de professores, um dos grandes desafios para as Universidades Brasileiras. É urgente que a formação do professor esteja preocupada com o ensino de LIBRAS, Braille e da tecnologia assistiva, para que esses métodos e recursos não fiquem apenas concentrados nas mãos de alguns poucos profissionais detentores desse conhecimento. A democratização dessas técnicas propiciam a ruptura de um modelo assistencialista e, consequentemente, das próprias barreiras atitudinais antes muito visíveis, ao agir com paternalismo ou acreditar que as pessoas com deficiência estariam fadadas ao fracasso escolar e profissional.
Ampliar as formas de acesso e democratizar os meios de comunicação, pelos quais as pessoas com deficiência possam ter contato com o conhecimento, ter disponíveis os seus materiais e adaptações arquitetônicas para que consigam freqüentarem os locais livremente, é o resultado de uma luta constante pelo reconhecimento profissional dos professores com deficiência, que só serão capazes de vencer a barreira da invisibilidade quando seus direitos forem respeitados e quando sua capacidade for reconhecida. Nesse sentido, cabe aos governantes e aos gestores públicos estarem abertos para receber essa demanda e reconhecer nesses profissionais suas capacidades laborais dentro das escolas públicas brasileiras.

* Luciane Molina é pedagoga e pessoa com deficiência. Atua há mais de 11 anos com educação inclusiva e possui especialização em Atendimento Educacional Especializado. Palestrante e autora do "Espaço Braille": www.braillu.com
Texto originalmente publicado em:

sábado, 25 de maio de 2013

Segunda aula em Cruzeiro - curso Grafia Braille

O segundo encontro do curso Grafia Braille que aconteceu em Cruzeiro foi marcado por muita descontração e novos aprendizados.
 
A aula teve início com uma breve revisão sobre uma "Cela" Braille e a posição que cada ponto ocupa dentro do espaço retangular. Em seguida, iniciamos a leitura da apostila, num momento mais técnico e expositivo, necessário para apresentar os conceitos teóricos que envolvem estimulação tátil, desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras, bem como a compreensão sobre como se dá o aprendizado da pessoa cega por meio dos outros sentidos.
 
Para isso, apresentei a conceituação básica sobre origem, histórico e características do código Braille, o que envolvem fatores favoráveis e desfavoráveis para o seu aprendizado, diferença entre os sentidos do tato e da visão para a elaboração de esquemas simbólicos e perceptivos, algumas técnicas que devem ser praticadas durante a fase preparatória e, também, durante a alfabetização Braille. Foi importante esclarecer sobre o reconhecimento da profissão de braillista, revisor e transcritor Braille e a função desses profissionais dentro das escolas ou na produção de materiais neste código.
 
Durante a aula, muitos materiais foram apresentados, tais como modelos de alfabraille, prancha de encaixe, cadernos de estimulação e de figuras geométricas, cadernos de linhas e jogos de percepção sensoriomotora, todos utilizados no momento anterior a alfabetização Braille, bem como algumas sugestões de atividades que poderão ser adaptadas para diferentes casos e idades.
 
Falei também sobre a decodificação de pontos, reconhecimento de letras, sílabas, palavras e sobre a contextualização de cada parte dentro de um texto, habilidades necessárias e fundamentais para um bom domínio das técnicas de leitura e de escrita.
 
No final da aula teve sorteio de brindes, botons em Braille. Apesar dos conceitos serem extensos, a aula foi bastante dinâmica e produtiva.
 
Até o próximo encontro!!!!
 
 
 
 
 
 
 
 

Sexta aula em Tremembé

O sexto encontro em Tremembé aconteceu no dia 13 de maio e teve como tema principal a escrita Braille utilizando reglete. Também, durante essa aula, os cursistas receberam uma apostila contendo todo material didático do curso em Braille.
 
Orientei sobre como realizar as primeiras atividades contidas no material didático, fornecendo o enunciado para cada tarefa, utilizando as letras da primeira série de sinais. Num outro momento, corrigi as palavras da transcrição que havia sido programada como tarefa de casa.
 
Em duplas ou trios, entreguei uma reglete e um punção, em caráter de empréstimo, para serem utilizados durante as aulas, até o final deste curso. Demonstrei como utilizar o instrumento, posicionando corretamente o papel e qual o movimento feito para a escrita. Apresentei o conceito de reversibilidade com a proposta de uma atividade com letras do alfabeto Braille.
 
A partir desse aprendizado foi possível reconhecer as características da grafia de cada aluno e identificar quais as falhas para propor a melhor forma de solucioná-las. O encontro foi bastante produtivo, pois iniciamos a parte realmente prática deste curso, em que a reescrita, a transcrição, a cópia e a escrita livre passam a ser elementos fundamentais para a construção dos conceitos que envolvem o aprendizado do Braille.
 
Até a próxima aula!!!!
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Palestra no XI congresso Interdisciplinar em Poços de caldas MG

Na manhã dessa sexta-feira (10), ministrei uma palestra no XI Congresso Interdisciplinar em Poços de Caldas - MG. Falei sobre o capítulo que escrevi no livro Educação Digital. A palestra teve duração de 40 minutos para um público de cerca de 200 pessoas. Antes do evento concedi entrevista para a TV Plan de Poços de Caldas. Confiram o resumo abaixo:
 
Palestra:  Informática e Deficiência Visual, uma relação possível em todas as idades
 
Luciane Molina *
braillu@uol.com.br
 
Com o avanço da tecnologia, muitas tarefas que antigamente eram executadas por pessoas, passam a ser executadas pelos computadores, o que resultou, a partir do final  do século XX e início do Século XXI, numa mudança no modo de vida de toda humanidade. No caso da pessoa com deficiência visual, pode dizer-se que a evolução e o desenvolvimento tecnológico tem trazido inúmeras conquistas antes jamais imaginadas. Isso implica na possibilidade de interagir com as máquinas através das tecnologias assistivas.
 
Nesse sentido, trago algumas reflexões a respeito do uso da tecnologia pelas pessoas cegas e a formação de professores, a partir do relato de experiência sobre como se deu o meu acesso aos computadores e, posteriormente, como autora e ministrante de cursos para capacitar os profissionais para o ensino eficiente do software Dosvox. Assim como abordado por mim  no capítulo  do livro Educação Digital: a tecnologia a favor da inclusão,  Pretendo levar a informação sobre a informática e a deficiência visual, como uma relação possível de ser construída em todas as idades. São pessoas  que passam a utilizar os computadores como fator de inclusão social, seja dentro do ambiente escolar, seja para a aquisição de habilidades profissionais e garantia da permanência no mercado de trabalho.
 
A partir da demonstração prática do uso do software Dosvox, pretendo fornecer algumas orientações e diretrizes que poderão facilitar o acesso aos computadores pelas pessoas cegas, iniciantes em informática.
 
A criação do sistema Braille no século XIX, na França, foi, sem dúvida, a primeira grande revolução para os cegos. ele permitiu que todas as pessoas cegas pudessem ler por intermédio dos dedos, utilizando o tato, possibilitando, assim, o acesso à informação. Porém ainda hoje pouco difundido, o domínio e utilização plenos do Braille requer técnicas específicas e, por vezes, a mediação de uma pessoa que enxerga, para transcrever para tinta, fielmente, todo o conteúdo em relevo, tornando-o legível para todos os que desconhecem esses  sinais. Soma-se a isso, a ausência de materiais e livros em Braille, assim como o alto custo para sua produção.
 
Desse modo, a tecnologia veio romper todas as barreiras de acesso à informação pela pessoa cega. É  o que costumo dizer, que "os computadores se transformaram em nossos olhos", pois como pessoa cega e consumidora de informação, tive contato com diversos recursos e elementos facilitadores para a conquista da minha autonomia e independência, dentre eles um  computador. A superação dessas dificuldades para a realização das atividades comuns veio a partir do momento em que se tornou possível a minha aproximação com esses softwares, que transformam os signos visuais em sons, o que se deu no ano de 2000. E assim, onde quer que haja um computador, há também a possibilidade de torná-lo acessível.
 
 Um usuário normal de computadores tem contato direto com o Hardware e, por meio deste, aos
programas (aplicativos). Quando um software de voz ou um  Leitor de Telas é instalado, ele coloca-se entre o usuário e o
Hardware e também entre o usuário e o aplicativo. Passa a capturar informações sobre as ações
do usuário e as respostas do computador, tanto do Hardware quanto do Software, convertendo-se em sons.
 
Por outro lado, a garantia dessa inclusão digital passa pelo investimento em equipamentos e softwares, formação de professores para atuarem com a tecnologia em sala de aula e previsão  das possíveis adaptações para esse público, já que as próprias tecnologias também impõe algumas limitações pela presença de uma estrutura gráfica intuitiva, comuns aos sistemas operacionais e que precisam ser interpretadas pelos softwares por meio da síntese de voz. Reside aí a necessidade do investimento no preparo desse profissional, pois será ele o mediador entre a ação desejada e a tarefa executada. Apenas equipar uma escola não é a garantia de conseguir um bom índice de aproveitamento. Esse profissional deve, antes de mais nada,  conhecer quais seriam as aplicações reais e formas de utilização dos computadores e desses softwares, compreendendo toda a interface sonora e os meios pelos quais as pessoas cegas aprendem sem terem disponíveis as mesmas pistas visuais, como, por exemplo, possibilidade de ajuste do timbre, velocidade e tipo de fala, troca de idioma de pronúncia, comandos e sistema de ajuda  via teclado em substituição ao apontar do mouse, importância do teste de teclado com  a sonorização das letras no lugar das teclas com anotações em Braille, menus interativos e sistema de ajuda que mostra todas as opções, entre outros.
 
Foi no início da década de 90 que surgiram as primeiras possibilidades de uma pessoa com deficiência visual utilizar computadores.  Essa era uma realidade ainda distante para os cegos brasileiros, até a criação do sistema Dosvox, no ano de 1993, sob supervisão do Professor José Antonio Borges,  ainda hoje a frente desse  Projeto, que recebe novas implementações e  ganha novas funções  a cada novo aplicativo incorporado ao software. Hoje o Sistema Dosvox conta com mais de uma centena de aplicativos e milhares de usuários espalhados por diferentes países. Por ser um sistema bastante simplificado e apresentar de forma lúdica e pedagógica muitas funções necessárias à compreensão dos elementos que constituem a alfabetização digital das pessoas cegas, é um dos preferidos para uso tanto com crianças em idade escolar ou com adultos que necessitam da aquisição de conceitos da informática.
 
Nesse cenário de grandes evoluções tecnológicas as pessoas com deficiências ganham o mundo e podem explorá-lo. Sob seu contexto social, quanto mais tecnologias disponíveis e quanto maior for essa interação, menor será o impacto causado pela deficiência no meio educacional, cultural, profissional ou social.
 
* Luciane Maria  Molina Barbosa é pessoa com deficiência visual,  braillista e pedagoga.  É especialista em Atendimento Educacional Especializado pela UNESP/ffc/SECADI e cerca de 72 cursos de formação e extensão na área da deficiência. Atuou durante mais de 11 anos com educação inclusiva pela Secretaria Municipal de Educação de Lorena, sendo uma das responsáveis pela implantação das salas de recursos multifuncionais, coordenando os trabalhos do AEE no município por meio do Projeto VIDA (Vivenciando a Inclusão, Diversidade em ação),sendo premiada no III Prêmio Ações Inclusivas, em 2012. Atua   com alfabetização Braille, inclusão digital pelo sistema Dosvox e leitores de tela e  formação de professores. Palestrante, colunista do blog Guia Inclusivo e autora de diversos artigos publicados em revistas e jornais. Colaboradora da Revista Reação. Vencedora do IV Prêmio Sentidos e mantém o blog Espaço Braille <www.braillu.com>. É também revisora e consultora em audiodescrição.  
 
 

 
 

 

Noite de autógrafo e lançamento do livro Educação Digital em Poços de Caldas

Nesta quinta-feira (9), realizou-se, na cidade de Poços de Caldas - MG, o lançamento do livro  Educação Digital: a tecnologia a favor da inclusão,  produzido pela  Editora Penso, do Grupo A.
 
O evento aconteceu no Espaço Cultural da Urca e contou com apresentações, exposição de materiais e revistas e a presença dos co-autores para a noite de autógrafo que teve início às 20:00horas, aberto ao público.
 
Estive lá, participando desse momento único, como autora do capítulo 12, intitulado "Informática e Deficiência Visual: uma relação possível?".
 
As fotografias abaixo ilustram todos os instantes dessa noite, incluindo alguns autógrafos inesquecíveis, o encontro com outros co-autores e organizadores da obra, a presença junto à editora, enfim, escrevendo mais uma página da minha trajetória pela educação inclusiva.
 
O livro  Educação Digital: a tecnologia a favor da inclusão estará disponível para compra em qualquer livraria.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

sábado, 4 de maio de 2013

Curso Grafia Braille em cruzeiro

Na cidade de Cruzeiro, localizada no Vale do Paraíba - SP, um grupo de professores se reuniu para investir na atualização profissional com foco na inclusão de alunos com deficiência visual. Eles passaram a receber, a partir deste sábado (4) o Curso Grafia Braille - "Semeando Leitores e Escritores competentes".
 
O curso está sendo ministrado pela Prof.ª Luciane Molina, terá duração de 6 meses e carga horária de 180 horas. Além da simbologia Braille, os professores receberão informações sobre baixa visão, audiodescrição, dicas de relacionamento e soroban. Também farão a adaptação de um livro de história infantil para apresentarem como requisito avaliativo.
 
Na nossa aula inaugural conversei sobre o conteúdo programático do curso, além da entrega das apostilas, em Braille e em tinta, que serão utilizadas durante as aulas. Apresentei alguns conceitos e participamos do sorteio de brindes.
 
A iniciativa desse grupo de professores reforça ainda mais a necessidade de um investimento na área da educação especial, buscando suprir as lacunas deixadas pelos cursos de formação inicial. Certamente o empenho e a dedicação desses professores serão recompensados pelo sucesso e progresso de seus alunos com deficiência visual, que terão ricas e grandes oportunidades de estudo.
 
Estamos juntos(as) para fazer a diferença, para semear inclusão por onde passarmos!
 
Parabéns pessoal!
 
E pra quem desejar somar esforços e unir-se ao grupo, ainda há vagas. Retomamos Às atividades no dia 18/05. Contato: braillu@uol.com.br