sábado, 9 de março de 2013

Educação Inclusiva: Uma Ruptura de Paradigma

Educação Inclusiva: Uma Ruptura de Paradigma
 
*Por Lu Molina
 
Além do tradicional mês do carnaval, fevereiro é marcado pelo período da volta às aulas e em meio a tantos preparativos para o início do ano letivo, não podemos descartar as ações por uma educação inclusiva que atenda aos alunos com deficiência nas instituições de ensino de todo o país.
 
A política da Educação especial na Perspectiva da Educação Inclusiva adotada pelo Ministério da Educação em 2008, posteriormente reforçada por diversas resoluções e decretos sobre a implantação do Atendimento Educacional Especializado por meio das salas de recursos multifuncionais, trouxe um novo olhar a respeito das possibilidades educacionais para alunos com deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação. Apesar disso, o direito a educação em instituições de ensino regulares já vem sendo debatido desde a nossa Constituição de 1988. Porém, o sentido da educação inclusiva não se aplica apenas em estudar "com" todos os alunos, mas requer que as pessoas com deficiência estudem "como" os demais alunos, garantindo-lhes métodos, técnicas e recursos que favoreçam sua plena participação e acesso à informação, como é o caso do sistema Braille, da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), da comunicação alternativa e das tecnologias assistivas.
 
A inclusão escolar é um direito que beneficia pessoas com e sem deficiência e que é garantido por meio da convivência e de práticas escolares inclusivas.  Quando os protagonistas dessa  educação conseguirem  compreender  que muitas das limitações ou incapacidades atribuídas aos estudantes pela  ausência ou falta de algo, posturas estas adotadas na era da integração,  cujas pessoas com deficiência eram obrigadas a se adaptarem ou corriam o risco de viverem em guetos, talvez possam evoluir para a era da inclusão, marcada principalmente  pela  remoção das barreiras ou obstáculos impostos pela própria sociedade.
 
hoje o conceito de inclusão revela que qualquer que seja a incapacidade, esta tem relação direta com as condições oferecidas pelo meio, pois  a deficiência é algo inerente ao corpo e a condição física ou intelectual das pessoas. portanto, uma pessoa cega pode ou não ser capaz de ler um livro dependendo da existência ou da remoção de algumas barreiras. Se o conteúdo deste livro estiver disponível no formato Braille, áudio ou digital, por exemplo, a cegueira continuará lá, mas  as barreiras desaparecem. Nesse sentido, fica bem claro o conceito proposto pela Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU, quando propõe que a deficiência não é mais da pessoa, por não enxergar, mas da sociedade, por não oferecer todos os
 recursos de acessibilidade necessários.
 
Piores do que as barreiras físicas, são as barreiras invisíveis, ou seja, a barreira atitudinal. Então se a deficiência fosse encarada como mais uma dentre as tantas características das pessoas, como qualquer outro atributo de etnia, raça, estatura ou  cor dos cabelos, as pessoas com deficiência poderiam usufruírem dos mesmos produtos ou serviços, não sendo encaradas como "especiais" ou "incomuns", ampliando a perspectiva por um melhor convívio, que esteja  em sintonia com a realidade ao nosso redor. Essa discriminação baseada em conceitos preconcebidos, enquadrando as pessoas segundo rótulos que as inferiorizam fazem com que não tenham chance de mostrarem suas reais capacidades, seja para o estudo, seja para o trabalho.
 
A escola, sendo um atalho que permite formar e informar pessoas para que desempenhem diferentes papeis na sociedade, é o local mais apropriado para a construção do conceito sobre inclusão e para a ruptura de um modelo segregado de convívios. portanto a figura do professor é essencial para viabilizar a educação inclusiva, iniciando na prática o movimento de acolhida de uma criança com deficiência. É o professor quem estará no contato diário com os estudantes, acompanhando seus progressos, descobrindo as necessidades de cada um para estabelecer uma relação de confiança. Estar preparado não significa "dar conta" de todas as demandas, mas sobretudo confiar que a prática docente é rica e imprevisível. Cada aluno age e reage a sua maneira diante das oportunidades que lhes são oferecidas.
 
Nesse sentido, não cabe a escola problematizar as condições físicas ou sensoriais  dos alunos que tem alguma deficiência, mas sim, problematizar as condições do ambiente escolar para a construção de uma sociedade inclusiva, cujas incapacidades superem todas as barreiras, reafirmando o compromisso por um ensino de qualidade e para um convívio saudável.
 
Luciane Molina é pedagoga e pessoa com deficiência visual. Especialista em atendimento Educacional especializado, atua com educação inclusiva há mais de dez anos pela Secretaria Municipal da Educação de Lorena – SP. Palestrante e autora do blog: www.braillu.com.
 
Texto originalmente publicado em 06 de fevereiro de 2013 no Guia Inclusivo. Acesso pelo link:
http://www.guiainclusivo.com.br/2013/02/educacao-inclusiva-uma-ruptura-de-paradigma/
 
 
 
 

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