quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Feliz Natal

Vivi um 2014 incrível e especial. Muitos sonhos realizados, desafios superados e mais 365 passos guiados pela fé, com amor e confiança. Não existe um recomeço pra quem já tem uma história e eu tenho orgulho em dizer que a beleza dessa história está nos atores que chegam e permanecem nas cenas mais queridas da nossa vida. 

 

Que o verdadeiro espírito do Natal consiga morada no seu coração, porque o Natal é todo dia, em cada gesto, em cada ação. Está num abraço, numa palavra amiga, ou apenas na presença daqueles que amamos.

 

Aos meus eternos atores mais que especiais, aos que chegaram pra fazer do meu 2014 mais colorido e a todos os meus amigos e familiares desejo que "Papai do Céu" leve a estrela mais brilhante para iluminar cada passo percorrido. Que o amor seja o companheiro eterno, que a saúde, a felicidade, a prosperidade, a fé e a coragem caibam dentro do embrulho com o laço mais bonito e apertado, assim como um abraço que simboliza todo o meu carinho e minha eterna gratidão.

 

Obrigada por ter feito o meu ano tão especial e que 2015 seja o melhor ano de  nossas vidas.

 

Feliz Natal

Ho! Ho! Ho!

 

Luciane Molina

 

Descrição da imagem para pessoas com deficiência visual: fotografia de uma mandala com pedaços de fitas coloridas penduradas em todo o contorno do círculo. No centro tem um espírito Santo e flores vermelhas ao seu redor.

 

Peça que acabou de ser confeccionada pelas mãos de Lucia Molina.

 

 

 

sábado, 13 de dezembro de 2014

Dia do Cego, dia de santa Luzia: meu agradecimento

Nos últimos 32 anos, o dia 13 de dezembro é dedicado a ela, Santa Luzia, que independente de princípios religiosos me faz estar ligada diretamente a fé. Mais do que uma tradição, ano a ano meu encontro com ela serve para estreitar uma relação de gratidão. Cresci entendendo o mundo por um jeito diferente de enxergar, nem melhor nem pior, mas o meu jeito, com as minhas referências, emoções, sons, cheiros e sabores. A vida tem o colorido que a gente se permite refletir e fui descobrindo que nesse percurso somos guiados por algo muito maior e muito mais forte; que o "não enxergar" fisicamente é apenas um detalhe tão pequeno se comparado a tudo que podemos realizar e de tantas belezas que nos cercam. Um detalhe que pra mim não faz diferença na construção do que sou hoje.

Se eu sou capaz de sentir o delicioso perfume das flores espalhadas pelo caminho, foi também porque eu ousei tocar seus espinhos. Faço questão de agradecer com vários sorrisos no rosto, porque eu estou sendo quem exatamente planejei ser.

Hoje também é o dia nacional do cego. Mais do que uma bandeira levantada para a inclusão, a deficiência visual faz parte da minha essência, é meu estilo de vida. Meus olhos são o meu maior troféu, porque eu não dependo deles pra fazer qualquer julgamento, nem será a falta dessa função a justificativa para que eu não alcance os meus objetivos. Temos que aprender que somos muito mais do que nossos olhos são capazes de enxergar e esse é o maior legado de uma vida inteirinha.

Tenho motivos suficientes pra comemorar essa data e para agradecer incansavelmente
o universo.

Viva santa Luzia!

‪#‎DiaDoCego‬
‪#‎SantaLuzia‬
‪#‎ObrigadaSantaLuzia‬

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Teatro Cego em Caraguatatuba

Como de costume, a cada nova experiência venho trazer meu relato a vocês. Hoje foi a noite do Teatro Cego com a peça "Acorda, Amor!" da companhia Caleidoscópio Comunicação & Cultura.
 
O espetáculo fez parte do V Fórum Inclusivo da Pessoa com Deficiência de Caraguatatuba e encerrou a semana de atividades que aconteceram desde terça-feira no município.
 
Contracenaram na peça atores com e sem deficiência visual e toda trama aconteceu no escuro completo. É baseada nas canções de Chico Buarque que foram executadas durante o espetáculo. Conta a história de quatro jovens lutando contra a ditadura militar. Enquanto tentam driblar os militares,  Três rapazes disputam  o  amor da moça que já está comprometida com um deles.
 
Antes do início da peça, os atores apresentaram a proposta do teatro para o público e, com bastante delicadeza tentaram manter a plateia tranquila. De fato há muita ansiedade por parte das pessoas, que desconhecem seus próprios limites ao lidar com uma situação inusitada: ficar praticamente 60 minutos na total escuridão. Hoje o dia estava bastante claro e o sol demorou a se pôr. Foi preciso aguardar um pouco mais para que a largada fosse dada.
 
A técnica usada por uma das atrizes ao conversar com o público nesse momento que antecedeu a peça me chamou bastante atenção:  Fazer a primeira fala fora do microfone para que as pessoas cegas presentes posicionem-se corretamente tendo como referência a voz natural  e não a caixa de som do teatro. Percebi que eles estão super ligados com essas questões, embora a apresentação não seja exclusiva para cegos.
 
Essa é a grande "sacada" do teatro cego, pois coloca todo mundo em igualdade de condições. Digo-lhes que me senti igual na multidão. Ali eu não precisei me preocupar se meu entorno era acessível, a cegueira não era mais  exclusividade minha. Apenas com uma lanterna, fomos conduzidos pela produção até as cadeiras que foram divididas em quatro setores. A qualquer momento as pessoas poderiam manifestar o desejo de saírem dali caso sentissem medo, pânico ou passassem mal, porém não era permitido retornarem.
 
Confesso que eu estava curiosa em observar a reação das pessoas aos estímulos não visuais presentes na apresentação. conhecia mais ou menos a proposta, embora essa tenha sido a primeira vez que assisti ao espetáculo. E quando teve início, a trilha sonora um pouco alta me incomodou, principalmente porque eu estava do lado da caixa de som e não me agrada o barulho exagerado em qualquer evento que eu participe.
 
Começaram os diálogos, as movimentações no palco, a interação com o cenário e o envolvimento do público com a história, ora com risos, ora com espanto ou surpresa. E como é para um cego assistir a um espetáculo totalmente no escuro?
 
Foi tão comum como assistir a uma peça com "luz, câmera, ação!"
 
Mas para as pessoas ali presentes, alguns detalhes ficaram muito mais perceptíveis no escuro, embora esses já costumam servirem de referência dentro do meu repertório de sensações acerca do que está acontecendo ao meu redor, incluindo o teatro. Achei fantástico compartilhar com muita gente como eu e outros cegos percebemos tudo isso! É interessante descobrir, apenas pela voz dos atores as suas  posições no palco e imaginar onde estão. A respiração, as emoções, a entonação de voz ficaram  muito mais reais e deu até pra arriscar suas fisionomias nos diálogos. Outros recursos de sonoplastia deram muita veracidade para a obra e, o que mais me chamou a atenção foram os aromas. O cheiro do café, do bife acebolado, da pizza, do sabonete, do cachorro quente deixou todo mundo de água na boca de verdade. Tiveram  até gotas d'água que saíram diretamente do balde para a plateia. Passos, batida de porta, balançar de chave, talheres batendo, cadeiras sendo arrastadas, tiro, rádio antigo com aquele som ainda chiado, foram algumas das referências que permitiu que esse momento se tornasse muito mais colorido do que qualquer jogo de luz.
 
Enfim, sou grata por participar desse momento tão mágico e tão instrutivo, ao mesmo tempo que levou para as pessoas uma oportunidade tão real para descobrirem que as imagens vão além da visão. É possível construir todo um repertório de imagens através dos outros sentidos, que estão muito além do medo e das emoções. Parabéns ao teatro Cego por levar a ideia de que a luz não é o limite entre o ver e o não ver.