Apesar de já estar atuando com formação de professores em Grafia Braille
desde 2006 e de ter formado mais de 1200 profissionais pelo país, minha
ida pra Tremembé, em mais um desses cursos, em março de 2013, teve um
significado especial e muito forte. Foi um daqueles momentos de
transição, em que o acaso fez o grande favor de me conduzir para esse
caminho, cruzar a trajetória de mais de duas dezenas de pessoas para,
juntos, construirmos uma relação de aprendizagens, de ensino, de
compartilhar e de solidariedade. Consigo compreender agora, com uma
intensidade muito maior, que cada ciclo que se encerra marca sempre o
recomeço de outro; depois de um ano de convívio nas aulas e até mesmo
fora delas, cujos momentos de encontro marcaram pra sempre a história em
prol de uma educação inclusiva, o balanço positivo nos traz pra memória
cada passo percorrido e cada sorriso no rosto para comemorar uma
conquista, por menor que pudesse parecer. Com muita frequência, os
conceitos trabalhados saltavam da tela do datashow e ganhavam sentido
quando contextualizados com as histórias daqueles professores e seus
alunos. Os estudos de caso possibilitaram compreender melhor o papel que
a escola exerce para garantir, de fato, a inclusão do aluno cego ou com
baixa visão no ensino regular. O uso dos recursos, as adaptações, a
escrita Braille e tantas outras dúvidas que permeavam o trabalho docente
foram, aos poucos, se diluindo frente a vontade, ao empenho e a
dedicação de cada cursista ali presente. Além de ensinar, é claro que
aprendi muito; tive que acolher, cobrar, incentivar, comemorar e
conduzir cada aula como se fosse única e, ao mesmo tempo, estar atenta
para que nenhum detalhe ficasse de fora. Foi durante esse período, em
2013, que ministrei oficina sobre baixa visão para outros profissionais
da rede municipal de Tremembé e, também, recebemos a premiação da
Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, através do
IV Ações Inclusivas, como reconhecimento ao belíssimo trabalho realizado
em Tremembé por meio do Curso Grafia Braille - "Semeando Leitores e
Escritores Competentes". Para finalizar a primeira etapa do curso, que
terá continuação até o final de 2014, solicitei um trabalho em grupo,
cujo desafio esteve na elaboração de uma aula "inclusiva", ou seja, cujo
conteúdo e atividades apresentassem recursos e metodologias aplicáveis
para uma classe que tivessem alunos cegos e videntes. A flexibilização
para o Braille foi a proposta central, também como uma forma de divulgar
essa escrita para todos os alunos presentes. A criatividade deu um show
e vamos conferir um pouco das apresentações.
Foram seis apresentações divididas em duas aulas. A ordem de
apresentações foi definida por sorteio.
O Primeiro grupo trabalhou os movimentos de rotação e translação da
Terra e a posição do nosso planeta com relação ao Sol. Utilizou um
esquema giratório e uma maquete para ensinar os movimentos, as fases da
lua e as estações do ano. O Sol, representado por uma lâmpada, emitia
calor e possibilitava que a pessoa cega compreendesse as posições da
Terra e da lua com relação a nossa estrela. Preparou um texto em Braille
com os conceitos e vendou um participante. Foi possível trabalhar também
noções de orientação/mobilidade, na medida em que o aluno teria que se
deslocar de sua carteira até a maquete e retornar ao seu local de origem.
O segundo grupo trabalhou um bingo de letras. Cada cartela foi
construida utilizando molduras de plástico e as letras em Braille
formadas com pedrinhas coladas no papel. Cada cartela continha 4 letras
diferentes e o grupo pensou em vários detalhes, tais como o corte no
canto superior para posicionar a cartela e um gabarito para fechar a
letra sorteada, encaixando um retângulo na moldura sem que houvesse o
perigo de se deslocar ao passar o dedo em cima. A atividade foi
individual e alguns participantes foram vendados.
O terceiro grupo também apresentou uma espécie de bingo de letras
embaralhadas, capazes de formar palavras. As cartelas estavam marcadas
em tinta somente e para os participantes cegos (vendados) eles
utilizaram um alfabraille móvel com o modelo de cada letra, colocadas
sobre a cartela na mesma posição da letra em tinta. O jogo foi feito em
duplas e algumas sugestões foram fornecidas para melhorar a dinâmica da
atividade. O grupo entregou o plano de aula em Braille.
O quarto grupo apresentou uma contação de história, cujos personagens da
fábula estariam representados pelo desenho feito com cola relevo numa
base emborrachada. A atividade consistia em reconhecer a figura e
montar, por meio do alfabeto móvel, o nome do animal. Detalhes
relevantes foram bem pensados, como os cortes no canto superior e a
semelhança na cor utilizada na base das figuras e nas letras do alfabeto
móvel, facilitando para quem tem baixa visão. Alguns participantes foram
vendados e tiveram dificuldade de conhecer a figura em relevo. Algumas
sugestões foram fornecidas a fim de melhorar a percepção tátil de
imagens bidimensionais.
O quinto grupo apresentou um modelo bastante versátil para trabalhar
letras e associação com figuras e objetos. consistiu num painel com
bolsos, cujas letras em Braille e em tinta nomeavam a inicial do objeto
que estava dentro de cada compartimento. A diversidade de materiais,
texturas, relevos e formas trabalhadas foi muito bem aceita pelos
participantes que estavam vendados e o reconhecimento dos objetos,
associados às letras permitiu o desenvolvimento da atividade que se
mostrou muito eficiente e dinâmica para a fase de estimulação e
alfabetização Braille.
O sexto grupo encerrou com chave de ouro todas as apresentações.
Trabalhou a obra do Pintor Kandinsky. Elaborou um texto em Braille
contendo sua biografia e características de sua obra, marcada por
construções utilizando figuras geométricas. O grupo vendou alguns
participantes e simulou uma baixa visão em um deles. Apresentou a
representação de uma de suas obras em relevo, com construções
bidimensionais e, em seguida, a mesma obra no formato de uma maquete.
Trabalhou, então, noção de perspectiva por meio da construção
tridimensional. Em seguida, mostrou outras figuras e obras construidas
com figuras geométricas, todas elas legendadas em Braille. Eram árvores,
paisagens, barcos, entre outros. a atividade foi realizada em grupo.
Cada grupo recebeu algumas figuras geométricas e o trabalho consistia em
reproduzir uma das obras apresentadas ou construir a sua própria
produção. Atividade que motivou a participação de todos.
Todos os grupos deram um show de apresentação e construiram materiais
incríveis, usando a criatividade e todo o conhecimento adquirido durante
nossas aulas.
Continuaremos, agora nossa trajetória de formação terá como tema o
soroban e a matemática adaptada! Parabéns a todos e, de mãos dadas,
trilharemos esse caminho!!!
Parabéns turma!
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