terça-feira, 20 de maio de 2014

Jardim Sensorial Em Caraguatatuba

àqueles que me conhecem, sabem o quanto defendo a criação de espaços
acessíveis e que promovam a inclusão de verdade. Jardins sensoriais país
afora nunca despertaram meu interesse e entusiasmo, pois na grande
maioria são construídos longe do alcance da população e acabam por se
transformarem em espaços exclusivos frequentados apenas por pessoas
cegas, esporadicamente.

Ao contrário do que temos encontrado por aí nesse sentido, venho relatar
e divulgar uma experiência muito interessante que vivenciei hoje em
Caraguatatuba. Fui conhecer um Jardim Sensorial, construído e mantido
pelo governo municipal através da Secretaria da Pessoa com Deficiência e
do Idoso (SEPEDI) em uma praça pública.

Chegando lá o que encontrei foi uma praça muito bonita e bem organizada,
com quadra poliesportiva, aparelhos para ginástica ao ar livre,
inclusive adaptados, bancos, árvores, canteiros com folhagens diversas e
uma trilha sensorial. O espaço é aberto ao público e as pessoas com
deficiência são acompanhadas por uma monitora. O espaço sensorial
compreende um percurso sinalizado por piso tátil, cujos canteiros
elevados são revestidos, internamente, por algum material que
possibilita a experiência sensorial pelo toque, além do aroma das
plantas. Cada canteiro possui sinalização em Braille contendo nome
popular da planta, nome científico e nome do material de base dos
canteiros. Por exemplo, o hortelã estava em um canteiro cuja base
interna era fibra de coco.

Em seguida, caminhei por uma trilha sensorial, agora através da
experiência tátil pelos pés. As mesmas texturas antes percebidas pelas
mãos poderiam ser pisadas, proporcionando sensações diversas. Digo-lhes
que a experiência da caminhada é muito diferente da experiência do
toque. Agradou-me bastante pisar na areia enquanto tocá-la provocou
rejeição. tocar ou pisar na fibra de coco trouxe uma sensação agradável
em ambos os casos. Embora perceber o formato e a textura das pedras seja
muito agradável, pisar nelas provocou certa dificuldade para prosseguir
a marcha.

Analisando tecnicamente o espaço, nota-se que foi estrategicamente
planejado. A praça é frequentada por qualquer público, independente da
deficiência. Nesse sentido, permite que a sociedade entre em contato com
os recursos de acessibilidade disponíveis para pessoas com deficiência
visual. O piso tátil permite uma locomoção segura e autônoma, indicando
o percurso e sinalizando os canteiros elevados. Cada canteiro possui uma
placa de identificação. Esse também foi um detalhe que chamou bastante a
atenção: a placa permite a leitura visual e tátil; possui letras grandes
cravadas numa espécie de acrílico, contrastando o fundo com a base, nos
tons preto sobre o branco. O relevo em Braille é saliente e
proporcional. Como braillista "perfeccionista" indiquei duas alterações
quanto Às grafias de palavras, mas que não diminui em nada a qualidade
do produto. As plantas muito bem cuidadas e as bases táteis
diversificadas, proporcionando, em cada canteiro, a leitura, a percepção
tátil e a sensação olfativa. Cabe lembrar, porém, que no local existe
uma maquete para que a pessoa cega possa se localizar e conhecer sua
arquitetura e distribuição espacial. O mapa tátil mostra toda a
organização da praça, incluindo a quadra, bancos, árvores, jardim e
trilha sensoriais. A trilha sensorial para a caminhada possui corrimão
para apoio e também placas fixadas para a identificação do material.
Como a maioria dos materiais utilizados na trilha já eram conhecidos
pelo toque, agora o objetivo é reconhecê-los pelos pés e assim ampliar
os canais de percepção. Confesso que a caminhada ora se mostrava mais
suave e tranquila, ora parecia desiquilibrar devido a irregularidade dos
objetos, como pedras e eucalipto, por exemplo, e ora parecia massagear
os pés.

Quero reforçar que a minha visita foi de surpresa e me deparei com um
espaço muito limpo e organizado. O cuidado com pequenos detalhes faz a
diferença para a realização de um projeto que pretende levar
entretenimento a um público específico e, ao mesmo tempo, proporcionar
que toda a sociedade participe do processo de inclusão, já que o local é
público e aberto. Não posso deixar de destacar o trabalho da monitora,
que além de cuidar do jardim, atua orientando os que por ali passam. Ela
me pareceu muito bem preparada para guiar e orientar pessoas com
deficiência visual, atenta aos detalhes, explicando e descrevendo o que
estava ao redor.

Enfim, com as mãos atentas, com os pés firmes e com o olfato apurado
vivenciei uma experiência bastante significativa hoje em Caraguatatuba,
que merece ser divulgada e reconhecida como uma iniciativa que contribui
muito para o processo de inclusão. Constatei que esse Jardim Sensorial"
não serve apenas de enfeite e de cartão postal para promover o
sensacionalismo, essa Praça Sensorial tem vida, a vida que promove a
cidadania.

Parabéns Caraguatatuba!

Um comentário:

  1. Parabéns pelo ótimo trabalho...Pessoas como você faz o mundo melhor ..Um forte abraço...

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