sábado, 16 de fevereiro de 2013

Palestra na Academia de Letras de Lorena

Na tarde deste sábado (16) estive em Lorena apresentando uma palestra a convite da Academia de Letras desta cidade, cujo tema "A Visão dos Dedos - Leitura e literatura em Braille, trouxe em pauta um assunto muito relevante no cenário atual sobre a inclusão da pessoa com deficiência visual e sua inserção no universo das palavras, por meio de uma forma peculiar de ver, mas não menos importante do que qualquer outra. Os dedos podem capitar aquilo que não é compreendido de forma visual e, assim, ganham a habilidade de "enxergar".
 
Como o assunto é bem amplo e desperta a curiosidade e o interesse das pessoas, o tempo previsto foi ultrapassado e todos estiveram ali, atentos, por quase uma hora de conversa e demonstração. Optei por uma exposição mais dinâmica, não me utilizando de recursos audiovisuais, mas sim de materiais que puderam ser manuseados pelo público ali presente, dando um caráter mais real para a apresentação. A escolha por esse estilo se deu graças ao fato do tema escolhido estar ainda oculto pra muita gente e o contato com materiais em Braille, como livros, reglete, punção e máquina de datilografia ainda não fazer parte do dia-a-dia da maioria das pessoas.
 
A literatura é fundamental para o desenvolvimento global de todas as pessoas e, sendo um direito de todas elas, inclui-se nesse grupo as pessoas com deficiência visual, que no Brasil são mais de 6,5 milhões, segundo o último censo do IBGE de 2010.
 
O mundo em que vivemos é extremamente visual e não dá pra negar esse fato. Cerca de 80% das informações externas e que estão ao nosso redor são transmitidas por meio da visão, permitindo que as pessoas interajam e que as crianças aprendam a ler mesmo antes de serem alfabetizadas. Nesse sentido o Braille vem pra romper essa barreira e tornar possíveis as formas de contato com a literatura, com a cultura e com a comunicação, afinal uma pessoa cega só será incapaz de ler se não forem oferecidos a ela recursos acessíveis para o acesso à leitura e à escrita.
 
Uma recente pesquisa aponta que cerca de 72% das escolas públicas do Brasil não possuem uma biblioteca e se pensarmos em uma biblioteca com obras adaptadas esse número é ainda mais alarmante e preocupante. Por isso temos que pensar em formas diversas para que o acesso à informação possa acontecer e ser democratizada. Todos podem aprender o Braille e assim contribuir para o processo de inclusão das pessoas cegas. Quem enxerga vai aprender o Braille por meio da visão e quem não enxerga, usando o tato da ponta dos dedos.
 
É importante destacar que entre as pessoas cegas encontramos dois grupos distintos: àquelas pessoas que nasceram cegas e nunca tiveram contato visual e Às pessoas que perderam a visão mais tardiamente, em algum período da vida. Apesar disso, cada grupo e cada pessoa requer um cuidado especial e uma reabilitação direcionada. A reabilitação serve, não apenas para restaurar a capacidade visual, que muitas vezes é irreversível, mas sobretudo para resgatar o direito dessas pessoas de pertencerem ao seu grupo social, propondo estratégias e formas de eliminar as barreiras encontradas para o acesso à literatura.
 
Apesar da grande evolução e desenvolvimento da tecnologia em prol das pessoas com deficiência visual, o Braille ainda é elemento chave, fundamental para o desenvolvimento da leitura e da escrita, pois nenhuma outra forma de contato com as palavras é capaz de suprir a necessidade do leitor de estabelecer um contato íntimo e direto com os livros, sentindo o cheiro do papel, a textura da folha, conhecendo a grafia das palavras, a disposição do texto pelas páginas, entrando em contato com a gramática da sua língua e sendo capaz de ler a sua maneira, com a velocidade que desejar e imprimindo a sua própria interpretação. a leitura é um ato singular.
 
Em seguida Contei brevemente a história de Louis Braille, criador deste método de leitura e escrita que revolucionou o contato das pessoas cegas e o acesso à informação. Comentei sobre as duas grandes imprensas Braille do Brasil, Na Fundação Dorina Nowill para Cegos e no Instituto Benjamin Constant, localizadas em São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente.
 
Continuei a palestra mostrando alguns livros em Braille: livro de literatura infantil e juvenil, livro de culinária em acetato, livro com texturas e aroma, livros didáticos, revista direcionada ao público cego, calendário, folder de divulgação de eventos, livro adaptado pelos alunos do curso de Braille, apostila utilizada para ensinar Braille nos cursos de capacitação de professores que ministro  e o manual da Grafia Braille nas versões impressa em tinta e em Braille. Nesse momento analisamos a diferença entre um livro adaptado (réplica em Braille de uma obra impressa convencionalmente) e que tem seu volume ampliado em quantidade de páginas , e o livro inclusivo (aquele produzido e que segue uma impressão em tinta e em Braille no mesmo exemplar), podendo ser lido por qualquer pessoa, seja cega, seja vidente. Todos os livros foram manuseados pela platéia. Durante a circulação dos materiais expliquei que apesar do Braille ainda se configurar pouco presente na sociedade, avançamos bastante. Hoje já é possível encontrar inscrições em Braille nas embalagens de medicamentos, nos rótulos de alguns produtos no supermercado, em cosméticos, em portas de bancos e elevadores, entre outros.
 
Na seqüência, demonstrei como formar algumas letras do nosso alfabeto por meio de uma representação da "cela" Braille gigante. O público presente recebeu um alfabeto em Braille impresso em negro no papel e juntos fomos construindo algumas letras, retirando pontos, acrescentando outros e removendo pontos de lugar a fim de encontrar a representação de cada letra do alfabeto simples. Falei da importância de se atribuir uma imagem mental e do esquema imagético para o aprendizado do Braille.
 
Finalizei a minha participação apresentando os instrumentos de escrita Braille, como reglete, punção e máquina de datilografia. Nessa ocasião fiz uma demonstração sobre como se produzem as letras e as palavras em cada instrumento e as particularidades atribuídas a cada um deles. Também respondi algumas perguntas da platéia.
 
Agradeço a Academia de Letras de Lorena pelo convite e me coloco a disposição para o que precisarem. Foi um prazer participar desse encontro e saber que, por meio do conhecimento podemos diminuir ainda mais o impacto das barreiras na vida da pessoa com deficiência. Certamente não saímos dali os mesmos que chegamos, porque o processo de inclusão não está distante de nós... e hoje nós tivemos a oportunidade de um envolvimento e uma maior responsabilidade para promover e construir uma sociedade mais inclusiva e acessível, diminuindo a distância entre quem enxerga com os olhos e quem enxerga por meio da "visão dos Dedos".
 
Nas imagens apareço conversando com o público a respeito do sistema Braille. A frente, sobre a mesa, aparecem alguns livros em Braille e demais equipamentos de produção da escrita. Também apareço mostrando livros diversos, escrevendo à máquina e mostrando uma "cela" gigante com pontos fixados nos números 1 2 3 (letra l). Também aparecem pessoas na platéia e uma moça manuseando um livro em Braille. Na seqüência das fotos estou junto com algumas pessoas, membros da Academia de Letras de Lorena, em pose para foto. Uso uma blusa regata verde e uma calça preta. Estou de cabelos soltos na altura dos ombros e de óculos escuros.
 
 
 
 
 
 
 
 

Um comentário:

  1. Luciane gostei muito do que vc tem feito... gostaria de falar com vc por telefone ou pessoalmente.
    Daniela Renó 91063523

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