domingo, 9 de agosto de 2009

Braille X PC: Um casamento feliz ou uma relação atrapalhada?

Trago a vocês a Primeira parte de uma "conversa" sobre Braille e tecnologia, mediada por Miguel Fernandes e publicada em seu BLOG: Blog DV-Tec Brasil

(...) "Concebido ainda no século XIX por Louis Braille, o Alfabeto originou-se de uma escrita tátil desenvolvida pelo Capitão Charles Barbier de La Serre, com
o intuito de trabalhar suas instruções militares no fronte de guerra, onde, é claro, uma outra forma de comunicação poderia chamar a atenção do exército
inimigo.
Braille conseguiu desenvolver o método utilizado por La Serre ao ponto de eternizá-lo como o código que apresentou a cultura escrita àqueles que,literalmente,
até então não podiam tocá-la.
O tempo passou,outras alternativas surgiram e idéias como a que estigmatizavam o Braille como uma linguagem de cegos para cegos começava a tomar corpo
e se contrapor a contextos que colocavam instrumentos como a informática e a internet como promotores da tão sonhada acessibilidade universal, já que de
fato mecanismos como o computador poderia abranger áreas e pessoas que por vários motivos o Braille correria o risco de não alcançar." (...)

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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Transcrição


Como o Braille não se caracteriza como uma "linguagem" específica para deficientes visuais, o ato de interpretar este código pela escrita convencional, denomina-se transcrição e não tradução. Assim, o Braille pode ser acessível a todas as pessoas, seja através da "transcrição" seja a partir do domínio visual dos seus caracteres. Durante a alfabetização, entre os deficientes visuais, recomenda-se associar a "grafia" das letras a algum objeto, forma ou figura relevante, construindo a "imagem" mental de cada letra. Para quem enxerga a dica acima torna-se muito mais valiosa, já que as tentativas de comparar o código em relevo com o alfabeto convencional não apresenta nenhum resultado.É bastante comum observarmos as pessoas que enxergam fecharem os olhos para tatear o Braille, causando um total espanto pela complexidade tátil do sistema. Porém, Apenas com um pouco de treino "visual" o vidente pode atingir resultados satisfatórios de leitura. Seu papel torna-se indispensável para a "transcrição" de materiais que, a partir daí, são "legíveis" aos demais. Mas não são apenas os videntes que "transcrevem" o Braille com qualidade, Quem não enxerga, porém que já foi alfabetizado anteriormente a perda da visão, conseguem realizar esta tarefa, sem muitas dificuldades.
A "transcrição" deve ser feita na parte superior da palavra, não ocorrendo cortes. A escrita deve ser contínua, obedecendo os padrões gramaticais que forem apresentados na escrita Braille. Recomenda-se a utilização de letras cursiva, já que o Braille representa a escrita do deficiente visual. Deve-se respeitar a escrita, tal e qual foi concebida, seja com erros ou acertos, pois o papel do "transcritor" é interpretar o relevo para tinta, de forma que se torne legível. Este fato gera reações adversas com relação ao "conhecimento" gramatical e ortográfico dos "transcritores". Divulgar seu papel é a melhor maneira de quebrar o preconceito.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Braille: Você sabe Interpretar esses Pontos?



Para ilustrar nossos comentários a respeito da importância de se conseguir interpretar as informações, trago-lhes as imagens acima:

Tela 1: algumas palavras escritas em Braille, sem correspondência em alfabeto convencional; amor, vida, paz, escola, futuro, festa, dança, maravilhoso.

Tela 2: Mesmas palavras da tela anterior, escritas em Braille, porém, com transcrição para o alfabeto convencional.

Essas duas telas que, ilustram minhas palestras, também, me acompanham nas primeiras aulas sobre Grafia Braille. Senti a necessidade de compartilhar com vocês o "valor" das informações e como o ato de interpretá-las pode mudar nossos "olhares" com relação a um acontecimento, a um fato, uma situação.
De forma clara e objetiva, inicio dizendo que não basta estar diante de uma informação; por mais valiosa e necessária que ela seja em determinado momento, o importante é saber interpretá-la. É como em uma Crônica que li há uns 6 anos (não me recordo autor e fonte) e que transcrevo abaixo de forma resumida.

"Ao saber sobre um grave acidente ocorrido no local onde sua filha trabalhava, uma mãe segue, desesperada, em busca de informações. Chegando ao local do acidente, em meio ao corre- corre, não conseguia nenhuma pista sobre o paradeiro da filha. Até que descobre que as vítimas estavam sendo encaminhadas para um hospital e, que lá, haviam as listas com os nomes dessas pessoas. A mãe segue imediatamente para lá e se vê diante das duas listas, em uma parede no corredor deste hospital. Sem saber ler nem escrever, essa senhora apenas conseguia "decodificar" em imagens os nomes de suas filhas, de seu esposo e, o dela própria. Então, frente àquele emaranhado de linhas que, se entrelaçavam, conseguiu ver o nome da filha, escrito em uma das listas. Acontece que as listas estavam identificadas: Listas dos Vivos e Lista dos Mortos. E agora, como essa mãe poderia saber em que lista o nome da filha se encontrava?"

Essa história nos mostra bem a importância de se conseguir interpretar as informações, caso contrário nos tornamos "vítimas" dessa falta de acessibilidade. Felizmente a moça se encontrava entre os vivos e o desfecho dessa história real terminou bem. Porém, o fato vem se repetindo diariamente entre aqueles que, considerados "analfabetos", não conseguem estabelecer essa comunicação leitura X escrita.
Mas não são somente os "analfabetos" quem não conseguem "decodificar" os signos em letras. Diante da primeira tela, a pessoa que desconhece o código Braille também se encaixa nesse mesmo grupo; apesar de estar diante da informação, ela não consegue interpretá-la. No caso da segunda tela, essa leitura se dá, porque existe a "transcrição" das palavras, ou seja, o Braille foi "interpretado" pela grafia convencional. Quais as sensações experimentadas por você, quando se depara com a tela 1 sem o conhecimento prático destes signos?
Como vimos em outros textos já postados aqui neste blog, somente através do domínio tátil da linguagem escrita e lida, ou seja, somente por meio do código Braille, o deficiente visual entra em contato direto com as letras, palavras e sentenças. É o Braille que fornece informações sobre ortografia, disposição do texto no papel, enfim, aquilo que o áudio não consegue substituir. Neste caso, o "cego”, leitor de Braille, se vê também diante de tantas informações inacessíveis e, assim como a "mãe" da história acima, se sente "analfabeto" diante dessa inacessibilidade.
Posso citar vários exemplos que, se não tiverem disponíveis em alfabeto tátil, colocam o deficiente visual em desvantagem no acesso a informação: cardápios, livros para estudos, panfletos de propaganda, placas de sinalização, jornais, revistas, cédulas e moedas, placas de preço em supermercados, e tantos outros exemplos que eu poderia ficar horas enumerando.
Assim, o Sistema Braille, antes considerado um meio de comunicação (escrita e leitura) típico de um grupo de pessoas com deficiências, desconhecido da maioria da população, agora torna-se um instrumento social a ser conhecido e aprendido por todos, rompendo a barreira entre a informação e o seu receptor. É de extrema importância divulgar ações para ampliar o conhecimento do código Braille entre as pessoas, principalmente entre os profissionais da educação, garantindo assim, uma maior acessibilidade entre a comunicação escrita e lida entre os deficientes visuais.
Fica aqui uma reflexão: seria considerado "analfabeto" o deficiente visual que desconhece o código Braille? E no caso das pessoas que "enxergam", que posição ocupam nessa busca pela informação,já que o Braille passa a ser considerado um instrumento social de comunicação?