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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Matéria - Jornal Santuário: Acessibilidade e Informação
Pág. 08 11 A 17 DE DEZEMBRO DE 2010
Edição n. 5.518
Acessibilidade e informação
A tecnologia contribui para que os deficientes visuais possam se informar
FILIPE CHICARINO
A professora Luciane Maria Molina Barbosa (27) é de Guaratinguetá (SP). O jornalista Marcos Lima (27) é do Rio de Janeiro. Além da idade, os dois têm outras coisas em comum. Duas delas são: ambos são deficientes visuais e consumidores de informação.
A história de Luciane e Marcos é muito parecida. Tanto a professora como o jornalista nasceram com a visão debilitada e com o passar dos anos foram ficando cegos.
Entretanto, a deficiência visual não os impediu de continuarem vivendo, traçando metas e as cumprindo. Após concluir o ensino médio, Luciane tinha certeza que sua vocação era atuar na educação. Sendo assim, cursou o magistério e depois ingressou na universidade para estudar pedagogia.
Já Marcos tinha como desejo cursar jornalismo. Ele prestou vestibular na UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro e depois de quatro anos concluiu o curso.
E para que eles pudessem ter a boa formação que tem, ambos se transformaram em consumidores de informação.
Era da informação
Inúmeros pesquisadores insistem em seus artigos e pesquisas que vivemos na era da informação.
“Este século tem sido denominado como a era da informação. Associado a isso, temos testemunhado vários avanços tecnológicos em diversas áreas Dentre elas, duas que têm causado significativo impacto sobre o modo de vida das pessoas: computação e telecomunicações”, apontou Antônio Mendes da Silva Filho, Doutor pela Universidade Federal de Pernambuco.
Hoje em dia, grande parte dos cegos se informa por meio da internet, utilizando softwares específicos que fazem à leitura em voz alta do que está sendo reproduzido no monitor do computador.
“Com relação à internet, a informação pode ser acessada por meio dos sites de notícias ou pelo twitter, que tem sido uma excelente fonte de conhecimento”, explica Luciane.
Graças aos recursos provenientes da tecnologia, Marcos consegue ler conteúdos jornalísticos como jornais e revistas que antes da internet era praticamente improvável.
“Faço no computador tudo o que uma pessoa vidente (quem enxerga) faz. Quanto mais desenvolvidas as ferramentas, mais acessíveis elas se tornam. Elas também possuem capacidade para incluir um número maior de pessoas”, ressaltou o jornalista.
No que diz respeito a televisão e o rádio, Luciane diz que esses meios também trazem grandes possibilidades de interação com os acontecimentos. “Porém, a TV deixa a desejar quando não se tem recursos de audiodescrição para informar o que acontece nas cenas em que não há falas”, explicou.
Ainda falando de internet, os sites de conteúdos jornalísticos são muito utilizados pelos deficientes visuais para obter informação. Entretanto, quando esses sites são construídos fora dos padrões de acessibilidade, a tarefa de se informar torna-se difícil e complicada. São as chamadas barreiras comunicacionais.
Foi pensando nisso que Cristiely Lopes Carvalho (22), aluna do curso de comunicação social da UNIPAMPA - Universidade Federal do Pampa em São Borja (RS) dedicou - se ao seu TCC - Trabalho de Conclusão de Curso.
Assim como Luciane e Marcos, Cristiely também é deficiente visual. Ela debruçou - se em uma pesquisa envolvendo a acessibilidade e usabilidade do site do Jornal Zero Hora, um dos maiores do Brasil.
“Acredito que hoje os problemas mais comuns nos sites jornalísticos são relacionados à estruturação das páginas, que nem sempre oferecem boa acessibilidade e usabilidade, o que dificulta a permanência do deficiente visual no site, tendo em vista os problemas no acesso aos conteúdos, causados pela estruturação da página”, explicou a universitária.
Depois da apresentação do trabalho, Cristiely quer dar prosseguimento à pesquisa. “Quanto mais a questão for abordada, mais se dá atenção à temática, e é isso que pretendo em relação a acessibilidade e a usabilidade na internet”.
Cristiely acredita que pesquisas semelhantes a que fez, poderão incentivar as empresas a estruturar seus sites, pensando na acessibilidade e usabilidade.
Falta fiscalização
Nem todos os veículos de comunicação estão preparados para abastecer de informação todos os públicos, inclusive os deficientes visuais.
“Embora hajam leis que regulem a forma de distribuição e publicação, por meio das principais mídias, dos conteúdos jornalísticos voltados para aqueles que tem necessidades especiais, praticamente nenhum veículo adapta o seu conteúdo visando contemplar o que é previsto em lei”, chama a atenção o mestre Marco Bonito, professor da UNIPAMPA.
O professor orientou o TCC de Cristiely, e o resultado final foi preocupante em relação as questões de acessibilidade e usabilidade.
“Ficamos com a impressão de que as leis existem, mas ‘não pegaram’. Também não há fiscalização e nem pressão da sociedade nesse sentido, bem como não há profissionais especializados nisso no mercado, embora isso não seja uma boa desculpa para o fato”.
Revista Falada
Os deficientes visuais também podem ter acesso a informação por meio de revistas faladas. É o caso da revista Veja, produzida em áudio pela Fundação Dorina Nowill para Cegos e distribuída para 750 deficientes visuais cadastrados.
“A revista é lida por ledores profissionais toda segunda-feira pela manhã. Ao meio-dia, ela já está editada e pronta para ser enviada pelos Correios. As pessoas com deficiência visual cadastradas recebem na quarta-feira, data de capa da revista impressa”, explicou Daniela Santos Coutelle, assessora de comunicação da fundação.
Legenda das imagens:
Legenda imagem 1: Luciane trabalha atualmente com a capacitação de professores
Legenda imagem 2: Além de jornalista Marcos também é atleta. Nesta foto ele está esquiando na Europa
Legenda imagem 3: A criação do sistema Braille, em 1825 foi um marco na história da inclusão dos cegos.
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