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segunda-feira, 6 de abril de 2009
Que tal fazer a Diferença!
Nesta coluna, coloco em pauta um assunto bastante explorado nos dias atuais e, talvez por isso, seja visto como a "moda" pedagógica: a inclusão do deficiente, em particular, do deficiente visual. No entanto, pretendemos que os esforços e as ações para uma efetiva inclusão não contemplem, apenas, às exigências teóricas daquelas "idéias" impostas por livros ou, até mesmo, por força de leis, decretos e portarias. E para que a "inclusão" não seja apenas encarada como uma "moda", Esse movimento precisa ganhar espaço, em primeiro lugar, dentro de cada um de nós e, na maneira como entendemos e convivemos com a diversidade e, a partir daí, para ações mais amplas e coletivas.Então, reproduzo aqui um "trecho" do texto que preparei para uma palestra, a partir do tema: "Que tal fazer a diferença!"
"Em primeiro lugar, falar sobre deficiência é falar de uma realidade pouco conhecida, mas que não deve ser encarada como diferente. Isso porque essa crença das diferenças pelas deficiências cria um certo distanciamento entre o que, realmente, conseguimos realizar e o julgamento das nossas capacidades. Assim, acredito na inclusão quando ela não coloca seus "sujeitos" em condições diferentes; quando ela não garante apenas o espaço, mas o convívio; quando não somos o diferente, mas fazemos a diferença com nossa presença; quando não somos apenas para cumprir lei de quotas; quando não formos mais os alunos de inclusão numa escola regular; quando deixarmos de ser a "deficiência" para assumirmos nossa verdadeira identidade.
Então que tal fazer a diferença?
Depende de cada um de nós fazer essa diferença e mudar o foco dos nossos olhares, da deficiência na pessoa para a pessoa com deficiência. Isso porque a inclusão não deve ser imposta por livros, por teorias ou idéias, pois sabemos que na prática é diferente, não acontece assim. As realidades são muitas e oferecer uma receita sobre o assunto pode padronizar essas realidades e prejudicar a forma como se encara essa inclusão; Ela deve partir de cada ação, de dentro para fora. E eu vou repetir, aqui, uma fala que sempre dou início aos meus cursos: "Vocês serão os multiplicadores
de cada nova informação sobre deficiência. Compartilhar em casa, no trabalho, com amigos e familiares é a melhor maneira de levar, para a maior quantidade de pessoas possível, a conscientização sobre como as nossas ações podem contribuir para a aceitação das diferenças, e para que essas barreiras atitudinais sejam eliminadas desse processo de inclusão!
E é isso que pretendemos: quebrar esse "mito" que se cria em torno da pessoa com deficiência, em particular, da pessoa com deficiência visual, suas facilidades para desempenhar algumas tarefas ou, dificuldades para realizar outras.
Para começar, eu acredito que apenas a deficiência visual não pode caracterizar uma pessoa como portadora de necessidades especiais. O simples fato de "fugir"
aos padrões impostos pela sociedade, como ser gordinho ou magro demais, baixo ou exageradamente alto, loiro, negro e, tantos outros exemplos da diversidade humana, já nos coloca em posição de ter uma necessidade especial em determinadas situações.
Então, nós não somos a deficiência, nós temos uma deficiência. Aí voltamos lá nas facilidades e dificuldades ... A falta de um dos sentidos, no caso a visão, nos obriga prestarmos a atenção em pistas que, para quem enxerga ficam mascaradas.
A visão ela nos fornece muitas pistas, talvez as mais relevantes, porém ela também ilude e camufla outras pistas e outras referências tão importantes quanto as visuais. Por exemplo, quando alguém fala que um cego escuta melhor. Nós não temos maior capacidade de audição. Apenas aprendemos a prestar mais a atenção nos sons e desenvolver mecanismos pra suprir a ausência do visual.
Nós tiramos as informações dos outros sentidos, tato, olfato, audição... Os aromas, para quem se locomove sozinho, são necessários para a localização de um ponto. Por exemplo o cheiro de farmácia, de supermercado, de grama cortada, entre outros.
O tato tem uma capacidade impressionante de percepção e assim a gente vai encontrando mecanismos de adaptação às situações diversas. Importante lembrar, também, que cada deficiente visual pode agir de maneira diferente, evitando a padronização. Alguns podem ter extrema facilidade para reconhecer vozes de quem chega e fala com ele, outros, já precisam de uma ajudinha extra! E tantos outros exemplos...
Quanto as dificuldades: muitas vezes elas caem para o campo do assistencialismo ou da piedade. Querer poupar as pessoas com deficiência da realização de determinada tarefa, é não acreditar na potencialidade dela.
Um exemplo que acontece demais nos espaços escolares, é o professor que, talvez por comodismo ou por desconhecer uma ação verdadeiramente inclusiva, atende o aluno no mesmo espaço físico, porém o exclui das atividades em grupo. A prova oral, por exemplo, marca muito essa ação. Nem todo aluno se sentiria bem fazendo uma prova oral, sendo avaliado em cada palavra, em cada gesto. ela só seria inclusiva, realmente, se a oportunidade fosse coletiva, para todos, e não apenas para aquele aluno, por causa da deficiência. O professor, os familiares, amigos, enfim, toda a sociedade, precisa se organizar e buscar essa informação. Hoje em dia, nossa realidade está muito mais ampla, principalmente com o uso da tecnologia." Mas será que toda facilidade trazida pelo universo tecnológico atenderia todas às necessidades de adaptações para quem não vê? É claro que qualquer novo recurso ou ferramenta nos abre infinitas possibilidades de interações, porém temos que tomar muito cuidado, porque, por mais comodismo e facilidade que pareça existir, jamais será suficiente para substituir a relação humana.
Cada situação deve ser compreendida como única e, as ações determinadas pelas necessidades das pessoas nessa interação. Caímos naquela história, bastante discutida entre os profissionais que trabalham com Deficiência visual: Qual método é mais eficaz - Braille ou informática? Não podemos determinar o melhor ou pior, já que nessa busca pela inclusão, seria incoerente excluir quaisquer formas de contato com conhecimento; e essa idéia de complementar deve ser expendida a qualquer outra necessidade.
Deixar com que as situações e os sujeitos determinem essa necessidade e, principalmente, usar tudo aquilo que estiver ao alcance para complementar e, assim, diminuir as barreiras entre o impossível e o provável.
Então, são nas pequenas ações que podemos fazer a grande diferença e, não apenas, olhar o "diferente" que está perto de nós... a inclusão é nossa!!!
Luciane Molina
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Informática para Deficientes Visuais: Orientações Básicas
Mal posso conter a felicidade de ter, novamente, um texto circulando entre tantos cadastrados e, por meio dessas linhas, caminhar aos 4 cantos e levar informação a tanta gente; Uma informação que, talvez, seja desconhecida e auvo de curiosidade de muitos educadores.
Nessa coluna, publicada dia 13/03 no Jornal Virtual Profissão Mestre, falo sobre a Informática e como essa tecnologia entrou na vida dos deficientes visuais. Com o surgimento e a popularização de recursos que utilizam o áudio, com softwares e programas desenvolvidos para atender essa clientela,um horizonte infinito de possibilidades foi aberto. Forneço algumas orientações para que o professor conheça essas ferramentas e possa explorá-las, afim de proporcionar um ensino de qualidade aos deficientes visuais no acesso à informação e aos computadores.
Informática para deficientes visuais: orientações básicas
Imaginar-se diante de um computador com o monitor desligado é, no mínimo, curioso. Se esta cena ocorrer com um vidente (quem enxerga), podemos concluir que, mesmo com tanta tecnologia disponível, existe a impossibilidade momentânea de explorá-la, nos seus variados aspectos. Isso porque os signos visuais são predominantes para a execução das tarefas em um computador.
Apesar dessa informação, um tanto quanto óbvia, não são apenas as imagens as únicas capazes de conduzir os usuários de computadores às aplicações correspondentes a cada atividade. Uma outra maneira de estar sintonizado ao mundo da informática é por meio dos sons. Com um monitor desligado, agora, um cego poderá desempenhar atividades diversas, apenas acompanhando o áudio do que estaria sendo mostrado na tela. Foi por meio dessas mensagens sonoras que milhares de deficientes visuais tiveram suas oportunidades ampliadas e o acesso aos equipamentos tornou-se possível e facilitado a partir do surgimento de leitores de telas e softwares específicos para atender essa clientela, bem como pela popularização desses produtos desde os anos 90 até os dias de hoje.
O acesso à cultura pelos deficientes visuais atinge níveis espantosamente melhores do que há poucos anos. O aparecimento de programas projetados para atender às necessidades de quem não faz uso de interfaces gráficas rompeu a barreira da inacessibilidade e vem modificando a relação entre homem e informação.
Hoje, tornou-se possível estabelecer uma comunicação mais efetiva entre quem enxerga e quem não enxerga, cuja mediação é feita apenas pelo software que transmite ao interlocutor toda a informação via áudio. A adaptação, no entanto, não consiste no investimento em materiais obsoletos, a grande maioria, mas de uma máquina comum e adaptada, que pode ser utilizada tanto por cegos quanto por videntes.
Sabendo que o computador é um dos instrumentos tecnológicos mais utilizados e que ainda existe uma série de barreiras para seu acesso, torna-se necessári e urgente pensarmos em estratégias para aumentar a participação de pessoas com deficiência visual na utilização desses recursos e ferramentas.
Conforme Borges (1996) "uma pessoa cega pode ter algumas limitações, as quais poderão trazer obstáculos ao seu aproveitamento produtivo na sociedade". Ele aponta que grande parte destas limitações pode ser eliminada através de duas ações: uma educação adaptada à realidade destes sujeitos e o uso da tecnologia para diminuir essas barreiras.
No entanto, o computador não sai falando sozinho, muito menos obedece a qualquer comando. É preciso dominar conceitos e técnicas adequadas para estabelecer uma interação harmoniosa entre máquina e usuário e, assim, sua operacionalização.
Para isso, os deficientes visuais precisam ter, a princípio, o acompanhamento de profissionais que dominem os sistemas e softwares e, não apenas tecnicamente, mas essa orientação deve partir de profissionais que tenham a prática na manipulação dos programas e aplicativos, de forma a utilizá-los como os cegos o utilizarão. Isso porque existem diferenças significativas entre saber usar e fazer o uso, o que reflete diretamente na forma como o cego adquire o conhecimento e coloca em prática no seu dia-a-dia. Quando se ensina informática a uma pessoa com deficiência visual, é preciso tomar bastante cuidado com o foco do trabalho, pois este público tem uma forma peculiar de "pensar" a realidade, apreender os conceitos e colocá-los em prática. O fundamental, em informática, é que ele consiga, por si próprio, após as primeiras orientações, buscar alternativas e atalhos e fazer o uso autônomo das ferramentas. Isso significa que se ele for bem orientado no seu trabalho com as máquinas, poderá atingir níveis avançados de desenvolvimento e manipular por si próprio, descobrir o que realmente lhe faz sentido e desvendar as ações necessárias a cada tarefa.
O professor, para atuar nessa área, precisa compreender alguns aspectos, os quais transcrevo abaixo.
Dicas para videntes:
* Após conhecer o funcionamento do sistema e/ou leitores de tela, executar as operações principais com o monitor desligado.
* Não olhar para o teclado ao digitar. De preferência, utilizar todos os dedos, partindo das referências táteis que há nos teclados (tecla f e j e nº 5 do teclado numérico).
* Exercitar a audição para as diferentes tonalidades e timbres de voz, velocidade e entonação na leitura.
* Utilizar sempre teclas de atalho (teclado), evitando o clicar do mouse, mesmo que seja para demonstrar resumidamente os aplicativos ou solucionar problemas.
* Nunca executar alguma operação sem que o aluno tenha conhecimento de como fazê-la. Ele precisa ter autonomia nas ações.
* Treinar a habilidade de abstrair conceitos, já que qualquer operação será via áudio. Em muitos casos, as imagens serão substituídas por sons ou palavras diferentes, que as distinguem dos demais textos.
* Organizar uma sequência para os níveis e graus de dificuldade.
Dicas para o trabalho com deficientes visuais:
* Antes de apresentar o sistema e/ou leitores de tela, conhecer a parte física das máquinas. Aprender ligá-las, desligá-las, entre outros.
* Ter contato prévio com um teclado, preferencialmente em Braille, fora do uso em computadores. Somente nesta etapa, recomenda-se uso de teclados etiquetados
em Braille.
* Habituar-se com as vozes, velocidade, timbre e entonação. Exercícios contínuos de acomodação auditiva, antes do domínio das operações.
* Já em uso, marcar algumas teclas com relevo para servirem como referenciais às demais, principalmente teclas de controle e função. Desnecessário o uso
de etiquetas com caracteres em Braille nesse momento, já que a duplicidade de sensações, auditiva/tátil, traria dificuldades e vícios desnecessários.
* Controlar os movimentos e pressão dos dedos.
* Compreender a estrutura de funcionamento dos softwares: diálogos via comandos do teclado e estruturas de menus.
* Estabelecer uma relação entre escrita Braille e informática, oferecendo um trabalho conjunto entre as duas formas de escrita e de acesso à informação
(textos em Braille e digitalizados).
Desta forma, podemos proporcionar uma maior produtividade no uso de computadores por deficientes visuais, já que representa uma valiosa contribuição para a inclusão, seja no meio acadêmico, no mercado de trabalho ou no entretenimento e ampliação das relações sociais desses indivíduos.
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